Pego meu celular e nada da resposta do Rogério, observo que a mensagem foi entregue, mas não foi visualizado, só se ele tirou a opção de visualizar. Começo a ligar, chama e nada de atender. O celular toca. Deve ser ele, digo para min mesmo. Eram as mensagens do grupo perguntando onde estávamos, porque só falta nós para começar o jogo. Todo final de semana nós e as rapaziadas nos reunimos para bater uma bolinha, uma pelada para nos relaxar da correria do dia a dia. Pergunto a eles se alguém o viu, responderam que ninguém tinha o visto.
Nós sempre fomos amigos desde criança. Morava em um bairro distante do centro da cidade, era de chão batido, poeira que não faltava. Que raiva acabei de limpar e a casa já está toda suja de novo, dizia minha mãe. Quando ventava entrava poeira para todos os lados. Rogério e sua família mudaram para o bairro, ele com dez anos de idade já era extrovertido e sem nenhuma vergonha, pois estava eu sentado em frente à minha casa, e ele já chegou me convidando para conhecer sua casa nova e seus brinquedos. Desse ponto não nos desgrudávamos mais, soltávamos pipas, brincávamos de bolinha de gude, betes, balança cachão, tudo com os demais colegas que moravam no bairro, mas sempre nós dois juntos, queríamos sempre está no mesmo time, como no golzinho livre. Quando já éramos adolescentes na brincadeira da passa anel dávamos sinais para sabermos quando eram meninas, uma hora tossíamos, ou algum tipo de barulho para que os outros não descobrissem a nossa tática. Em falar em paqueras sempre um ajudava o outro na hora de ficar com alguma garota, contudo nunca me deixava namorar, ele falava que temos que apenas curtir e que isso iria acabar com a nossa amizade. Claro que não, a amizade vai continuar, dizia eu
Em um desses episódios conheci uma garota ruiva, Natalia era seu nome, inclusive o encontro foi com ajuda dele. Foi amor à primeira vista, nos conectávamos tanto que logo já estávamos namorando. O Rogério não gostou muito, ele contratou uma prostituta só para mentir para Natalia que estávamos tendo um caso. Mesmo com todos os argumentos, esclarecendo a verdade, ela não acreditou. Acredito que deve ter sido trauma de seu relacionamento passado, já que foi traída várias vezes e sofreu abuso do seu antigo namorado. Fiquei muito bravo com o Rogério, pois amava Natalia, ainda a amo, quem sabe um dia voltamos, sei que ela não está com ninguém, disse uma amiga dela. Mesmo com a tristeza e a decepção o perdoe, ele até falou para Natalia que era tudo uma mentira, mas ela não acreditou, como somos amigos ela acha que ele quer me encobertar.
Descido ir em sua casa, estava todo fechada, o estranho que os cachorros também não estavam no quintal, o portão trancado, deve ter ido no veterinário ou passear com os cachorros algo do tipo. Volto para casa e continuo a ligar e mandar mensagem, mas desta vez a ligação não completa, e a as mensagens só aparece um pauzinho sinalizando que a mensagem não chegou. Passo a noite preocupado, amanhece o dia vou a casa do Rogério, continua igual, tudo fechado. Ligo para sua irmã que mora em outra cidade, já que era sua família mais próxima. Ele perdeu seus pais a dois anos atrás em um acidente de carro, uma carreta atravessou a pista ao contrário, foi um momento difícil para o Rogério. Eu e sua irmã mais velha éramos o conforto dele. Ele tinha 19 anos e morava com eles ainda, o baque foi grande.
Sua irmã me atende, e disse que não sabe e não falava com ele a dois dias, contudo retratou um fato estranho, as mensagens dele estavam diferentes, curtas e objetivas, nem perguntava dos sobrinhos. Vou entrar em contato com nossos tios e primos ver se eles sabem dele, disse-me. Duas horas depois ela me liga disse que ninguém sabe dele. Nos preocupamos, fomos até a polícia, ele foi incluído como pessoa desaparecida. Acredito que ninguém fez mal a ele, pois não tinha intrigas, ao contrário era benevolente, sempre ajudava os outros, estava envolvido em obras de caridades, inclusive queria sempre eu junto, me arrastava para todo o lado.
Já fazem um mês desde o seu desaparecimento, ainda acredito que ele vai retornar que está por aí. Meu medo e da sua irmã se ele teve algum mal súbito ou acidente, e não sabemos. Neste tempo eu e a Natalia se aproximamos, ela ficou sabendo do desaparecimento de Rogério, pelos cartazes, publicações nas redes sociais e veio oferecer ajuda.
Acordo na manhã seguinte com uma menagem misteriosa no meu celular de um número desconhecido. Será que é o Rogério? Ou mandaram errado? O engraçado que mando mensagem e nada de ser entregue e quando vou ligar a ligação não completa. Na mensagem estava escrito: “Seja feliz”. Espero que ele esteja bem, e que volte um dia, pois sinto sua falta.

Tiago Alves Santos, é de Jacarezinho – PR, formado em Letras Português/Espanhol pela Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP e em Educação Física também pela mesma instituição. É professor de apoio do Colégio Santo Antônio em Ourinhos – SP. Escreve narrativas literárias, sendo um dos seus contos já publicado.