Revista Navalhista – Psicotrópicos de Capricórnio na Ilha da Trindade (Opera Editorial, 2024) já começa com seu herói sendo recrutado para uma missão na dita ilha. “Se o jornal queria encontrar problemas, havia recrutado o profissional perfeito”. Apresente sua obra, falando um pouco quais problemas ele encontrou por lá. O que podemos esperar desse livro?
Luis Felipe Mayorga – Uma viagem para a ilha da Trindade leva uns três dias de ida. Quando o navio chega, fundeia e começa a faina de descarregar e carregar o material, assim com, trocar os ocupantes da ilha, o que leva três dias. São mais três ou quatro dias retornando ao continente, e você tem aí uns dez dias de ausência para cada repórter que faz esse bate-volta, gerando impressões muito semelhantes em suas matérias. Para a emissora é muito tempo (e muita hora extra). Para o jornalismo, é pouco, muito pouco. No meu livro, a ideia da redação era uma reportagem imersiva que acompanhasse a rotina dos ocupantes da ilha por ao menos dois meses, permitindo encontrar histórias diferentes, os tais “problemas” que o protagonista menciona. O livro é uma ficção, mas não deixa de ter isso, o psicológico dos militares, os sentimentos da pessoa ilhada e impotente perante os acontecimentos no continente… Coloquei tudo lá. Quando estive na Ilha da Trindade por 75 dias no ano de 2008 eu era um cara de vinte anos com ideologia anarquista e antimilitar. Mas também estava em uma fase de me abrir para a grande diversidade humana, aceitar as diferenças e admitir que idealistas folgados como eu só conseguiam tempo livre e liberdade para discutir essas coisas porque existiam agentes repressores do Estado (com todos os seus execráveis defeitos) impedindo a sociedade de sucumbir à barbárie. E aí conviver com marinheiros e fuzileiros navais por mais de dois meses me ajudou a compreender essas pessoas. Fui respeitoso com todos e fiz amizades. Mas o livro só brotou em minha cabeça em uma convulsão criativa durante a gestação do meu primeiro filho, que nasceu em 2021. Me dei conta de que ficaria impossibilitado de escrever direito por bons meses (mal sabia eu que seriam anos) e me danei a escrever o livro como se minha vida dependesse disso, como se eu estivesse perto de morrer. E de fato, quando nasce um pai, morre um jovem adulto que alimentava o mercado de action figures. Então nessa carta de despedida eu joguei um pouco de minhas angústias da época nos personagens, imaginei como seriam as interações dos militares com um esquerdista que não os respeita, e imaginei desdobramentos sérios para as avistagens de objetos voadores não identificados que acontecem por lá. Sim, muitas pessoas possuem causos estranhos para relatar. Dentre elas, eu. Detalhei cada uma de minhas avistagens em meu blog https://ilhadatrindade.blogspot.com/ e afirmo que tem alguma coisa atípica voando ao redor daquela Ilha. Então o livro é um monte de “e se” para mistérios e lembranças que me acompanham desde 2008.
R. N. – Levando em conta que é uma forma cativante de convidar nossos leitores à leitura do seu livro, lembrando também que nem todo mundo vai clicar no link acima, convido você a contar pra gente ao menos um desses causos da Ilha da Trindade, lugar onde se passa seu romance.
L. F. M. – Vou contar sobre a primeira luz que vi. Eu e meu colega estávamos na Praia do Túnel, esperando as tartarugas subirem para marcar o local de seus ninhos. Ao se iniciar a madrugada, e com poucos animais subindo, nos revezávamos no repouso. Na minha vez de cochilar, sentei na areia encostado numa rocha vulcânica bem desconfortável, todo abrigado em meu casaco de couto sintético que esfarelava, e me preparava para desligar o cérebro por alguns minutos, quando uma luz amarela mais forte que as estrelas brilhou no céu. Apenas isso, como fosse uma lâmpada acionada por um interruptor. Antes que eu pudesse decidir qual seria minha emoção, a luz desceu, se ocultando atrás do paredão do Túnel. Em uma velocidade de queda inicial, meio lenta. Obviamente, eu não conseguiria mais dormir, na expectativa de que uma criatura extraterrena surgisse caminhando pela praia a qualquer momento. Então a Ilha da Trindade tem dessas coisas. Eu sei reconhecer meteoros, cometas, satélites artificiais e planetas no céu. Sei o que aquilo não era. E tive outras avistagens exóticas, em apenas dois meses de estadia. Várias pessoas na ilha também possuíam um causo ou outro para relatar. Alguém deveria se dedicar a passar meses na Ilha apenas olhando para o céu noturno. Que alguém faça alguma coisa! Enfim, coloquei um pouco dessa emoção no livro. Assim como meu protagonista, nós também comunicamos nossa segunda avistagem à base pelo rádio e fomos recebidos com gargalhadas. O Brasil realmente é um país amistoso que não quer briga com ninguém, nem mesmo com os extraterrestres.

R. N. – Você falou em “convulsão criativa”. Tem um clichê que nossos leitores não nos deixam escapar: fale um pouco sobre seu processo de escrita. Seja do Psicotrópicos de Capricórnio na Ilha da Trindade, seja em seus demais escritos. O que faz as engrenagens da escrita girarem para você?
L. F. M. – Eu escrevo ao tentar traduzir sentimentos complexos demais para serem explicados. Sempre tive muita saudade de tudo, desde criança. Vou lá na frente e fico triste e saudoso pelo presente. Às vezes abraço meus filhos com saudade deles, porque na minha mente eu viajei ao futuro e os vi independentes. Então eu vou escrevendo sem muita técnica de escrita, sem saber para onde estou indo, apenas desmatando minhas circunvoluções cerebrais com as palavras afiadas, na tentativa de abrir trilhas por onde caminhar, em busca de clareza mental. Ou seja, navalhando (gostaram dessa, né?). Muitas vezes, depois que escrevo, o sentimento complexo está resolvido. Não me incomoda mais; posso guardar em uma gaveta da alma. Posso, se quiser, revisitá-lo para uma consulta fria, uma autoanálise, porém não mais para saboreá-lo. E se eu estiver trabalhando muito, focado em resolver problemas, apagando incêndios, posso ficar meses sem escrever. O que tem sido sofrido, de fato, nos últimos anos, é quando eu realmente preciso escrever mas a rotina me impede. Por isso, ultimamente eu tenho tido essa angústia mal resolvida, da saudade de escrever. Meu processo de escrita depende da necessidade de escrever ser tanta, a ponto de eu abrir mão de uma noite de sono bem dormida. Mas se a necessidade é pequena, eu deixo pra lá e vou acumulando, de frustração em frustração. Uma coisa que tenho feito nos últimos anos é anotar no e-mail o conceito ou mesmo a sinopse de algum romance sequer iniciado, de alguma ideia sobre a qual não pude escrever adequadamente. Vou cultivando essa esperança (talvez vã) de que um dia eu pegue essas ideias e as desenvolva até que cada uma se torne um novo livro. Ou talvez eu as comercialize para escritores talentosos que estejam acometidos pela Síndrome de Bartleby.
R. N. – Além de escritor, Luis Felipe Mayorga é ambientalista. Vamos deixar um pequeno desafio: você é convidado a escrever uma distopia que se passa no Brasil, no ano de 2050. Qual cenário podemos esperar para essa obra?
L. F. M. – Na verdade eu já fiz um primeiro esboço em direção a isso; você pode ler meu conto “Você confia na humanidade?” em meu Medium, Substack e na Revista Literatura Fantástica Vol. 16, onde foi originalmente publicado. Mas nesse caso é mais uma ditadura das IA’s disfarçada de utopia, paradoxalmente otimista. Se o desafio é elaborar uma distopia feia, com cara de distopia mesmo, vou por caminhos relativamente fáceis e clichês: um país dominado por castas religiosas evangélicas que impõem sua agenda a todas as pessoas, reprimindo a diversidade cultural ou religiosa e aumentando a impunidade de todo o aparato policial estatal. Pouco criativo? Sim, porém 2050 está logo ali; estou sendo bem realista. Deixando a política de lado, podemos pensar em uma distopia onde o vilão é o clima, em que municípios são abandonados por ondas de calor ou de frio extremo, e as chuvas torrenciais imprevisíveis varrem comunidades inteiras em vales e encostas. Também não muito distante de nossa realidade atual, certo? E nesse cenário de batalhas diárias pela sobrevivência, nossos heróis… espere aí. Talvez o planeta esteja apenas se curando dos seres humanos. Vamos parar de vilanizar a natureza.
R. N. – Aproveitando que você tocou no tema do fundamentalismo religioso, lembrei que um de seus pinguins-de-magalhães pediu para eu te perguntar sobre sua relação com Deus.
L. F. M. – Uma vez durante a pior temporada de pinguins até hoje, quando atendemos mais de 400 aves em 2012 certa voluntária católica disse “vou rezar pelos pinguins essa noite” e eu fiz troça dela, coitada. Eu era jovem e imaturo, estava em privação de sono há meses, minha namorada havia me largado. Eu mal via meus pais e minha família. Estava estressado e estúpido o suficiente para desrespeitar a fé alheia e retrucar que Deus não estava nem aí para os pinguins. A gente que não trabalhasse, para ela ver se Deus ia ajudar os pinguins. Deus deixou os pinguins encalharem morrendo de fome, repletos de parasitas, alguns contaminados por óleo, dezenas mutilados por predação. Um cenário horroroso, de hospital de guerra. A reza dela não ia aumentar nossas taxas de sobrevivência. Os pinguins estavam à mercê da natureza brutal, com todos os seus horrores e esplendores. Jesus disse que não morre um pássaro se não for a vontade de Deus, não é? Então é da vontade de Deus os encalhes em massa de pinguins ou golfinhos, assim como a morte de um bebê baleia para um bando de orcas famintas. Ou as relações intraespecíficas desarmoniosas entre esses primatas terríveis que vestem roupas; na Palestina, no Sudão ou no Rio de Janeiro. Ele forma a luz e cria as trevas, certo? Ele faz a paz e cria o mal; Ele faz todas estas coisas. Isaías quarenta e cinco: sete, meu amigo. Minha relação com essa fonte de vida central onde nos movemos e existimos é de perplexidade e impotência. Fui criado evangélico, sabe? Como tantas outras, é basicamente uma religião de intensa feitiçaria, onde tentam manipular a ação divina com suas orações, votos, jejuns, propósitos, dízimos e ofertas. Saí desse mundo cedo. Entendo que Ele não pode ser manipulado. No que podemos mudar nossa existência, nos esforcemos com severidade. Embora muitas situações estejam além do nosso alcance. O ideal para uma vida rica é se fazer de sonso, fingir não saber a diferença entre essas situações e sair tentando mudar tudo, o possível e o impossível. Meu conselho para você, pinguim, é: nade mais rápido.
R. N. – Fale um pouco sobre seu trabalho no IPRAM (Instituto de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos). Como o seu trabalho com os animais reverbera em seu processo de escrita?
L. F. M. – Eu sempre tive muita afinidade com animais, desde criança. No fim do meu curso de medicina veterinária, junto com colegas estudantes de biologia ou biólogos recém-formados, fundamos esse instituto sem fins lucrativos com o objetivo de organizar uma resposta aos encalhes de pinguins que ocorriam recorrentemente no estado do Espírito Santo, trazendo muitos prejuízos e desafios sanitários. Eu era basicamente um moleque com espinhas no rosto intitulado “presidente” por outros colegas tão maltrapilhos como eu, o que era ironizado por outras pessoas que, nessa caminhada, se tornavam rivais. Esse é o momento em que você se pergunta como é possível a existência de pessoas ou empresas que se posicionam como um obstáculo para a reabilitação de pinguins. E eu respondo que, se humanos são capazes de prejudicar o seu semelhante, quanto mais uma pequena ave gordinha que não voa, defeca ininterruptamente e come 1 kg de peixe por dia. Se um pinguim já dá prejuízo, um trabalho que se propõe a cuidar de centenas deles até devolução ao mar acaba se tornando uma espécie de manifestação política involuntária. Então sim, existiam pessoas ou empresas que atrapalhavam nosso trabalho. O fato é que nós humanos temos um sentimento inato de superioridade sobre os demais animais. Quem nunca escutou críticas semelhantes a: “Por que não ajuda crianças de rua ao invés desse animal?”. Muitas vezes, dar atenção demasiada a animais desperta a indignação alheia. Enfim, tenho uma relação diária com os animais, sejam os de estimação ou os do trabalho. De fato, isso se reflete no que eu escrevo; não havia parado para pensar nisso. Acho que quase tudo o que escrevo tem um animal infiltrado ou mesmo como protagonista. Sejam os romances ou os contos. Que curioso. Vou me desafiar a escrever algo que não faça menção a qualquer animal não-humano.
R. N. – Analise sua trajetória – do final do curso de medicina veterinária até hoje – sua luta ambiental, encontrando na escrita mais uma arma para esse fim. Hoje, se encontrasse com o “moleque com espinhas no rosto intitulado presidente” o que acha que ele te diria?
L. F. M. – Eu percebi ter uma afinidade com a escrita no fim do ensino fundamental, mas cultivei uma profunda irritação com as regras gramaticais e não me interessei pela área de Letras. No curso de veterinária, conheci a metodologia científica e publiquei uma nota pela primeira vez em um Periódico. O assunto era, veja só, o registro de uma Baleia-bicuda-de-Cuvier que desenterrei na Ilha da Trindade. Animado e produzindo resumos para congressos, cheguei a ser acusado brevemente de fraude por um professor que não me julgava capaz de ter escrito certa tarefa. Mais adiante, uma vez que fundamos o instituto, dediquei minha escrita em documentos que tentavam explicar/convencer empresas, autarquias e órgãos governamentais sobre a importância de que o nosso trabalho recebesse ajuda financeira. Além de continuar publicando em revistas científicas. Também sou até hoje o responsável pelas postagens nas redes sociais do instituto, o que me levou a desenvolver uma persona mais contida para essas situações. Eventualmente rivais criaram denúncias malucas contra nós, certa vez para o Ministério Público, por exemplo (que hoje é um parceiro nosso) e eu precisei usar da escrita como escudo para explicar (juntamente com os dados) qual era o nosso trabalho e que estava tudo em ordem. Então a criatividade, associada à objetividade da nossa atividade, tem sido uma ferramenta muito importante até hoje. Mas acho que se meu eu de quinze anos atrás, portador de gigantesca jovialidade e gigantesca melancolia encontrasse meu eu atual, tudo o que construí desmoronaria, pois ele saberia que deu tudo certo e relaxaria, aquele grande vagabundo. Meu combustível é a incerteza e a possibilidade do fracasso. E a sede de destronar príncipes sobre as sandálias que me calçam os pés, é claro.
R. N. – Pelo que já percebemos, entre os animais autodeclarados racionais e os que foram cunhados de irracionais, Mayorga prefere esses últimos. Mas imagine que a vida te deixa diante da seguinte situação: escolher entre lidar com os seus animais ou com o fazer literário. O que você escolheria? Por quê?
L. F. M. – Não é bem isso, embora talvez eu realmente tenha dado a entender dessa maneira. Também precisamos definir o contexto dessa preferência. Com quem eu prefiro conversar? Com animais racionais; pois não sou fã de monólogos tendo animais como únicos ouvintes. Quem eu prefiro comer? Animais irracionais, é claro. Em qual grupo eu faço carícias e demonstrações de afeto em público independente de sexo e faixa etária? Animais irracionais, ainda bem. Então depende do contexto. Mas se a vida me obrigasse a escolher, nesse momento, agora que eu já vivi tudo o que eu penso que precisava ter vivido com os animais, não me importaria de ficar restrito à literatura. É um campo que eu ainda não consigo explorar com a intensidade que gostaria. Estamos falando profissionalmente, certo? Se eu fosse proibido de ter animais de estimação em casa, aí o exercício fica mais complexo mesmo.
R. N. – E se as pessoas quiserem comprar seu livro, como fazer? Venda seu peixe. Depois desse papo, vai ter muito pinguim querendo comprar.
L. F. M. – O “Psicotrópicos de Capricórnio na Ilha da Trindade” é um livro estranho indicado para pessoas estranhas que pode ser adquirido em versão física no site da Ópera: https://operaeditorial.com.br/produto/psicotropicos-de-capricornio-na-ilha-de-trindade/ e também em eBook na Amazon, já gratuito para assinantes do Kindle Unlimited: https://a.co/d/bOE8okF . Se você, leitor iniciante, está exausto de CEOs se apaixonando por secretárias e aventureiros caçando dragões, experimente sair da rotina! E para quem gosta de histórias contemporâneas e vive como o Jeff Lebowski: esse livro é para você (talvez seja sobre você)! Como falamos sobre pinguins aqui também, vou esticar o jabá e indicar adicionalmente o meu livro “A Viagem do Pinguim” que pode ser adquirido no site da Caravana: https://caravanagrupoeditorial.com.br/produto/a-viagem-do-pinguim/ . Esse livro também é uma viagem, em que você acompanha a vida de um pinguim de Magalhães do ponto de vista da própria ave, sobrevivendo aos perigos do oceano até chegar ao Brasil em sua migração de inverno. Tem um monte de pinguim morrendo no caminho, tem muito aprendizado sobre o impacto das atividades humanas à vida dos animais e tem um final feliz. Caso nenhum contratempo muito sério inviabilize meus planos, esse ano estarei na FLIP 2025 em Paraty, onde você poderá adquirir seu exemplar autografado diretamente comigo na Casa Caravana ou na Casa Ópera, e descobrir que sou um baixinho barbado e roliço que lembra algum dos sete anões, exceto o Dengoso. Leitores e desafetos que tenham vontade de me dar um soco na cara também podem vir, mas é bom que me peguem de surpresa se quiserem ter alguma chance de sucesso, porque eu ainda consigo correr muito bem.
R. N. – Terminamos com aquele caloroso tapinha nas costas. Agradecemos demais por somar conosco. Conclua falando o que desejar, amigo. Liberdade total. Até uma próxima.
L. F. M. – Siga @escritormayorga no instagram, leia os livros e se desejar, envie um e-mail malcriado reclamando do que não gostou para felipoe.mayorga@gmail.com , faça você mesmo, leia o livro universo em desencanto, não vote em quem ganha visibilidade usando religião e mentiras, beba mais água, se estiver simulando debilidade em uma UTI não faça lives, e se fizer não reclame de receber intimações, não use drogas (lícitas e ilícitas), mas se usar ao invés de apoiar o imperialismo do hemisfério norte prefira consumir produtos locais (Guaraná Coroa/Jesus, etc), coma menos pão e mais legumes e vegetais, não mate lagartixas que elas comem os insetos, seja punk mas não seja burro, corte relações com quem acredita sinceramente em pregação em línguas de pastores-mirins e trate com cautela quem acredita nas versões adultas, não fure fila, devolva o troco errado, respeite os idosos e nunca, nunca aceite conselhos ou ordens sem questionar.

Luis é doido. Doido pelo mar frio, peixes e corais; pelo mergulho em apneia, pelos embarques em baiteras de madeira até as ilhas costeiras, pela vida que fervilha nesse caldeirão biológico que resfria e oxigena nosso planeta. Luis embarca para estagiar em ilhas oceânicas, para turismo ou para soltar pinguim e tartaruga. Luis leva esposa, filhos, lanche, vomita, mergulha, tira foto e escreve. Se acha escritor. Desde o ensino médio, navegando sem rumo em pensamentos distantes no plano das ideias durante as aulas, roubando as que achava interessantes. Luis formou em veterinária e continua escrevendo. Luis é doido.