A autoinvestigação em “O rascunho da vértebra”, de Leonardo Castelo Branco
A autoinvestigação em “O rascunho da vértebra”, de Leonardo Castelo Branco

A autoinvestigação em “O rascunho da vértebra”, de Leonardo Castelo Branco

por Soraya Viana,

professora, tradutora e navalhista assistente

(perfil completo).

Você tem um diário? Se não, já teve curiosidade de sondar confidências alheias?

Em O rascunho da vértebra, acessamos pensamentos íntimos do escritor paulista Leonardo Castelo Branco.

Logo de cara, ele anuncia: “Não consigo imaginar a estrutura literária que isso terá, apenas escrevo”. Nas páginas seguintes, acompanhamos cenas cotidianas, reflexões sobre trabalho X lazer, análises de obras artísticas e evocação de memórias enternecedoras (como a adoção da cadela Poema). Também passeamos por bairros de classe média da zona sul paulistana, tomamos uns bons drinks, dançamos ao som de música eletrônica na sala e, da janela de Leonardo, observamos a paisagem urbana e humana e filosofamos.

Numa linguagem cuidada ‒ mas acessível ‒ o autor registra a efemeridade da vida com uma delicadeza que lembra a das fotos de Hirayama, protagonista de Dias perfeitos, de Wim Wenders. O texto inclui ainda trechos aforísticos e observações sobre o ato de escrever. Leonardo classifica a composição do diário como “uma expedição arqueológica” dentro de si mesmo e questiona os sentidos dessa prática. 

Do mesmo modo, nós, leitores, podemos indagar: Para quê classificar em vez de desfrutar? 

Para o público em geral, O rascunho da vértebra proporciona uma leitura fluida, dicas de excelentes livros e filmes e a inspiração para uma autoanálise. Quem é escritor poderá interpretar a obra como uma excursão de ida pelas elucubrações do autor e uma volta ao próprio íntimo. Nesse regresso, temos a sensação do encontro com alguém “da nossa turma” no caminho. 

Segundo uma passagem do diário, o retorno para casa “é a melhor parte de uma viagem”. Portanto, seja o leitor quem for, a narrativa de Leonardo é um antídoto contra a neurose da aceleração global vigente e um convite a (re)apaixonar-se pela beleza escondida no cotidiano. 

Leonardo Castelo Branco é também redator publicitário, roteirista e autor de O colecionador de emoções: A vida de Oscar Maroni. Leia a conversa do autor com a Revista Navalhista.


Leonardo Castelo Branco

Leonardo Castelo Branco nasceu em São Paulo, em 1986. Atua como escritor, roteirista e redator publicitário desde 2005. É autor da biografia de Oscar Maroni (2017) e de diversas obras como ghostwriter. Seus textos literários, alguns premiados nacional e internacionalmente, foram publicados em revistas como Subtextos, Sucuru, Navalhista, Mirada Janela, Brasilis e Ruído Manifesto. Em 2025, publicou O Rascunho da Vértebra, pela editora Comala, com prefácio de Xico Sá e quarta capa assinada por Renan Sukevicius. A obra foi viabilizada via crowdfunding e atingiu a meta em apenas seis dias de campanha.

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