LUCAS DE OLIVEIRA AMORIM – 3 poemas
LUCAS DE OLIVEIRA AMORIM – 3 poemas

LUCAS DE OLIVEIRA AMORIM – 3 poemas

O navalhista do dia é Lucas de Oliveira Amorim. Segue abaixo 3 poemas do poeta carioca:

 

 

 

 

Memorial da insignificância 

 

Os maiores canalhas 

estão em praça pública

banhados por bronze

sendo fitados por olhos de admiração.

 

Estão nos museus

cobertos de tinta óleo

e nas igrejas em madeiras.

 

Os canalhas são adorados 

e culpados por milagres

e bênçãos e virtudes.

 

Os bons escritores não serão lembrados

assim como os piores vinhos

que derramam sobre a brancura

mas nunca mancham

nunca serão marcados.

 

Os estúpidos estão por aí

sendo banhados pelo clichê

e pela mesquinharia de suas palavras.

Estarão nos passeios públicos

e também nas universidades

com dezenas de milhares de discípulos 

sem sequer saberem o quão ruim foram.

 

O mundo é dos canalhas.

Os bons findam no esquecimento. 

 

(que as minhas palavras sejam pedras contra os monumentos tortuosos.)

 

 

 

 

Carta para os velhos mestres 

 

Antigamente as máquinas 

salvavam aquelas criaturas 

que expulsavam as poesias 

de dentro do seu íntimo 

em busca de paz. 

transformando-as em estruturas 

magníficas, amorosas e viscerais. 

Hoje em dia, a máquina trabalha 

para salvar os mesmos 

velhos escritores, 

mas agora em seu devido 

leito de morte 

dentro de uma emergência 

contando com deus 

ou rezando para Sorte 

Como um bando de loucos 

lutando para não morrer sem ar 

Com seus pulmões perfurados e pretos 

e seus fígados sangrando 

e se desintegrando 

aos poucos. 

Com toda a certeza, iriam escrever 

sobre toda esse inferno hospitalar. 

Mas eu ainda estou aqui 

para vos representar: 

Enquanto eu não precisar 

da máquina para viver e respirar 

Versos nunca irão se esgotar, 

até o dia em que eu envelhecer 

e padecer em uma maca enferrujada. 

Até lá eu já escrevi muita coisa 

para ficar eternizada. 

Confiem em mim! 

Já escreveram o suficiente 

Vocês já estão de partida 

mas o que deixam 

jamais serão esquecidas 

estarão por aí, circulando 

como cédula velha 

nos corações famintos e imundos 

Entre mentes eruditas 

e pensamentos vagabundos 

No dia do seu último suspiro 

Não jogarei flores no caixão 

nem cantarei um louvor angelical 

nem mesmo vou bater continências 

Irei comunicar 

que extrema unção de escritor 

é benzida com reticências 

e não ponto final.

 

 

 

 

Hemorragia

 

Escrevo

hemorragias

mal estancadas

que insistem

em entrar

em erupção

no centro

da minha

alma.


Lucas de Oliveira Amorim

Lucas de Oliveira Amorim, carioca, 30 anos, estudante de História, poeta, contista, cronista e roteirista de histórias em quadrinhos. Tendo participação em mais de quinze obras publicadas. Além disso, é um leitor voraz da Contracultura, da Geração Beat e da Literatura Brasileira.

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