DIEGO FERNANDES MOREIRA – 6 poemas
DIEGO FERNANDES MOREIRA – 6 poemas

DIEGO FERNANDES MOREIRA – 6 poemas

Revista Navalhista

 

 

“APENAS UM REFLEXO NA ÁGUA…”

Apenas um reflexo na água, por irredimível vocação.

Apenas um reflexo na água,

por todos que despertam com a vontade de bastar em curta melodia;

por todos que afundam cada deus no sangue –

quando o espírito repleto retém o grito de quem nasce no escuro…

 

 

Revista Navalhista

 

 

A GEORG TRAKL

 

Vedado, afinal, pelo dourado das encarnações…

Sempre nas vésperas da ardência, do romance…

 

O homem perdido na floresta em vapor.

 

Não trago o segredo de um sonho sem altitude.

Sempre d’outro lado a centelha da promessa…

 

Ouves o grito sem a exclamação da luz?

 

Acoberto no sonho as almas d’orvalho gelado…

O poente sem extensão… Glória de sussurros!…

 

 

Revista Navalhista

 

 

“DEPOIS QUE APEDREJARAM A JANELA DO MEU PEITO…”

 

Depois que apedrejaram a janela do meu peito,

eles puderam espiar o fugitivo

– acolhido como um filho sagrado…

Mas, com a alma condenada ao longo dia,

nenhum de nós pôde soltar a voz – sem que a danada se perdesse numa outra vida…

 

 

Revista Navalhista

 

 

DIANTE DA OBRA HUMANA

 

Deus chora…

 

Acima de tudo,

Ele chora por saber que não podemos superá-Lo.

 

 

Revista Navalhista

 

 

O PULO DO CÃO

 

Conseguem ouvir? 

 

Conseguem ouvir a nota mais alta do coro? 

Não adianta algazarra para cobrir o tom. Não adianta tapar os ouvidos. 

Ainda assim, de alguma forma,  

pega-nos o mais bravo dos cães: pega-nos a nota mais alta!… 

 

Antes, para cada lado dos limites de Corinto 

correu, esbaforido, um cão: 

correram de Diógenes os tantos demônios que em vida o impregnaram… 

 

Agora, sobre o enlameado monte das lendas, 

apenas o esboço de um cão danado… 

E uma parte do coro ainda por chamar – aquela fera que corre na língua… 

 

 

Revista Navalhista

 

 

“SOBRE MINHAS PALAVRAS…”

 

1.

Sobre minhas palavras, árvores que tombam…

A pele trocada de um sonho a mais

e a impossibilidade de deixar pra trás o indivíduo ainda preso na miragem…

 

2.

Sobre minhas palavras, mais um dia perdido atrás de imperiosa promessa…

 

3.

Sobre minhas palavras, o bosque devastado…

E suas almas, ainda humanizadas,

sentindo mais a tal premissa de correr – para junto de animais emudecidos…


Diego Fernandes Moreira

Diego Fernandes Moreira [São Paulo, 1982] estudou Cinema na capital paulista e formou-se em Filosofia pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). É autor do livro de aforismos O Último Estranho (Multifoco, 2022) e da plaquete de poemas O Mar Revolto Debaixo da Cama (Costelas Felinas, 2023).

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