GIVANILDO ROCHA – A Morte do Menino Jesus [microconto]

Noitada de carnaval, a Avenida Litorânea estava lotada. Bebendo e bebendo, Mateus de Jesus fazia escorrer o vinho pela goela como uma enxurrada que escorre abaixo de um morro qualquer. Tec, tec, tec, assim fazia o encontro de seus dedos com a tela do telefone celular, à medida que conversava com um rapaz branco, alto, perfil corporal musculoso e viril.

Virou-se de canto e avistou um homem sem camisa encarando-o, que acreditou ser o outro mensageiro, o secreto, pois os corpos se pareciam muito e no aplicativo não havia foto de rosto algum. Entre olhares cruzados e fogo aceso, o outro caminhou multidão adentro em direção a um banheiro químico. Seria um convite? Mateus acreditava que sim.

Pobre Jesus pretinho, queria tanto preencher seu vazio que confundia a paixão da vida com a morte. Seria a culpa do vazio pertencente a quem o expulsou do lar ao descobri-lo homossexual, deixando-o ao relento da solidão e do descuido? Ou a culpa seria dele mesmo, pois onde já se viu Jesus gay?

Na cabine, abraço quentinho por trás, mãozinha na boca. Na hora da cobra fumar, quem fumou foi a faca. A fumaça? Tiara de flores vermelhas pelo chão, meu Deus!

Jesus preto foi crucificado, e então houve chuva, houve grito, mas a música se elevou e prosseguiu o trio elétrico.

Givanildo Lucas Santos da Rocha, nascido em 2005, que assina como O Natimorto, é maranhense e estudante de Letras na Universidade Estadual do Maranhão. Foi vencedor do 4º Festival Maranhense de Contos, Crônicas e Poesias da UEMA, tendo sua obra “A Ascensão” publicada em e-book pela EdUema. Instagram: @lsarocha.gil