Com a navalha: Fred Dantas. Ficaremos com 5 poemas:

Dezesseis e trinta
Um sol de dezesseis horas
de um verão acinzentado
nuvens carregadas pelas bordas
nas vestes de um céu nublado.
Alto em luminosidade escondida
dessas que viaja sem passaporte,
esgueirada e clandestina.
Pela janela não cintila mas carrega um pensamento à reboque.
Ventilando esconderijos, disfarçada
essa escrita que observa, atenta e estrangeira
o silêncio entre as esquinas de um poema sem tinta, de rimas teimosas inacabadas.
E permanecem esperando o arrebol de mais um dia
dos planos e do ruído espasso de um feriado:
o choramingar de uma criança, seguida de uma voz materna e carinhosa …
e na cortina entreaberta que observa o relógio marcado:
agora, dezesseis e trinta.

Poema da boca da noite
E a noite me veio e então escrevi.
No malabarismo dos pensamentos.
Entre a alcova dos sonhos despertos, percebi
no segundo calado, versos, a penumbra e o tempo.
Era a poesia a me trazer alento.
E um sorriso suave me visitou o rosto.
Ah e o motivo tu sabes, soa ao vento
no olhar perdido neste canto sempre exposto.
Eu, desse amor e dessas madrugadas.
Nas horas tão lentas e ritmadas.
Eu, dos poemas tão cotidianos.
Eu, simples e perdido no meio dos planos.
Então escrevi noite a dentro,
de mim, que sigo assim no olhar marejado
na corda bamba dos instantes e intentos
escapando do soco, na boca da noite acordado.

Cheias
Meu silêncio de ouvir, quer falar.
Meus olhos de sentir, querem olhar
a lua dos sorrisos,
o que tem ao mar.
O mar de um navegar sem portos
em que a vida tenta,
e meu silêncio de ouvir, tenta dizer
e meus olhos de sentir, sabem ver.
A lua é cheia,
e eu também.
A maré cheia,
e eu também.
Amar é cheia
e eu também.

Confrontando o agora
Quando a verdade faz o medo gritar,
a dúvida enche o peito e arrebata
o desconhecido faz o novo se mostrar
e o anseio arde e maltrata.
Nebuloso é o agora desses dias
estranho e taciturno vem me visitar
na visão desse receio em agonia
cobre meus olhos no que não se quer acreditar.
O silêncio é cruel companhia
e a poesia minha linha de fuga.
O tempo, algoz parceiro, sentencia
dias de luta contra mim, entre a sombra e a penumbra.
Abandono simbólico das artimanhas.
Despido de um sorriso inquilino
sou eu nessa agridoce façanha
de sobreviver a cada passo até o fim do caminho.
Quando a verdade se agita pelo medo de ser
o instante pesa nessa trajetória minha.
Grito palavrões em silêncio para amortecer
essa ferida aberta que me definha.

Ventanias
o que arrasta o vento?
folhas, sonhos, sobras?
o que diz o vento
quando zuni no ouvido da possibilidade?
ventania que move o sonho
e escapa
no sobre-voo ou num salto.
folhas, pedras, fantasias…
o que o vento arrasta, delira do verbo.
a gente não vê o vento,
mas vê o que o vento move.

Frederico Dantas Vieira, conhecido no meio literário como Fred Dantas, nascido e residente na cidade de Aracaju, Estado de Sergipe, nordeste brasileiro. É poeta, escritor, autor dos livros de poesias: “Paródia do amor na poesia esquecida”(2002) “Liberdades Pretéritas”(2018), “Palavras Nômades: poesias e contos”(2020) lançados no Brasil e em Portugal, “Poemas de sobre(voo) e outros desmoronamentos”(2022), Infinitivos: poesias e contos (2023) e Ventanias (2024),além de participar de diversas antologias de poemas e contos. É também psicológico social e clínico e usa a literatura e a escrita também como forma de intervenção.
É simplesmente emocionante, tocante e cativante ler e ter os poemas do escritor e poeta Fred Dantas, que na sua veia pulsa uma escrita inteligente cheia de poesia, sonho, melancolia, e muito sentimento, como também sabedoria, que nos instiga a refletir, a pensar e ir além muito além!!!👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽📖📚📖❤️😍🥰