Por Adriana de Freitas*
“ainda senti o hálito dele.
como se eu fosse um espelho
que
embaçasse.”
“Avenida vazia” , de Leandro Aparecido de Souza, é uma obra poética que parece um livro, mas que é, na verdade, um bilhete de viagem.
Uma vez embarcando, a sensação é a de estar de fato cruzando a cidade de uma ponta a outra, entrando nas casas, conhecendo as famílias, sentando à mesa do jantar com elas, parando para um café no balcão da padaria.
“minha mãe era assim
tão cowboy
(…)
só não tinha o balão natural
de
oxigênio
no peito,
que quase todo mundo tem
ela gostava de ser porco-espinho
alfinetar.”
O pai, a mãe, o filho, a diarista, a pombajira, a puta, o morador de rua.
Indivíduos que passam por nós todos os dias, anonimamente, ganham cara, corpo, nome e coração na poesia catártica de Leandro, e somos pegos de surpresa quando percebemos que esse corpo desconhecido pode ser o meu, ou o seu.
Entre as pessoas que passam, estamos nós, passando também.

Passando e subindo a ladeira, pegando no batente, cantarolando um samba, perambulando pelas ruas antes de voltar pra casa, sentindo dor, gozando. Tentando sobreviver. Um dia de cada vez, e todos os dias.
“sou sobremesa uns poucos
dias por ano
fênix entre serpentina.
a espiral dos quadris à sua
mercê.”
Uma viagem inesquecível, atravessar a “Avenida Vazia” de Leandro Aparecido de Souza, cheia de uma multidão desconhecida e, ao mesmo tempo, tão familiar.
Uma boa viagem.
Sobre a autora do texto:

Adriana de Freitas nasceu no Rio de Janeiro, cresceu em Fortaleza, e atualmente reside em São Paulo. Tem poemas publicados em revistas e coletâneas, além de prêmios e menções honrosas. Coordena o Plurais Literatura. É autora de “Cantos de amor livre e outros pecados” (Ed. Libertinagem, 2023), e “Meu coração é um verso que pulsa” (Caravana Editorial, 2024).
Sobre o autor do livro:

Leandro Aparecido de Souza é poeta, autor do livro Avenida Vazia, que saiu pela Absurtos Editora.