O navalhista do dia é Coelho de Morares. Segue uma séria de poemas denominada 4 Poemas de Lilith.

1.
devastada a noite, marcada no brilho das luas
só me lembro de te pegar pelas costas nuas
quase deitado sobre você em intenso coito
perdido em mordeduras da nuca e pescoço
retrancam veias doloridas em nádegas espalmadas
criei-me dentro da névoa translúcida do teu gozo
e não me permito esquecer a briga de sexos
sem perceber que saliva e sabor me eram nexos
de varão nobre me esgueiro nas coxas morenas
sereno na seara é o delta do teu ventre que me prende
incluso na sebe diminuta de vorazes pelos da vênus
cabe a mim ser um homem que ama e devora terrenas
frutas de teu corpo; o horizonte me é curto, me rende
na tua singeleza quente de amante que se cobre de luz

2.
andamos por estrada e rua nuas…
andança de lanches e doces sóis diurnos
não eram encontros súbitos, nem tantos,
mas foram veros e deleitosos
cantos menores, sombras maiores, tesões,
que se ouviram de vozes nos jardins e quadras
aquecendo certas raivas e insucessos
de sonhos e desejos demonstrados e perdidos
tua presença é de encontrar veludos
por isso o tocar de roupas que separam corpos
fica o celebrar de uma possibilidade intacta
pois sendo voluntarioso de desejos e visões
que me agradam em sonhos e falas violetas
serão leves as conversas entre ousadas e ternas paixões

3.
deslizo minha mão pelas costas macias
tento alcançar no mais baixo da curva venérea
alguma coisa glútea tida como caverna etérea
enquanto procuro o interior da coxa esperta
sou afastado, como se procurador inábil eu fora
evito esgueirar pelas pernas em meio aos temores
mas, mãos e dedos pelos meus braços são clamores
ato sutil e delicioso de alguém que suscita e foge
como voltei a insistir na tentativa de carícia mais densa
sou obrigado a imaginar que belisco as sensíveis beiras
de uma vulva aparentemente longínqua, macia, veludosa
e… perdemos nosso tempo ouvindo baboseiras,
sandices burocráticas imersas na parede trevosa
que aos esclarecidos sensuais não é mais que ofensa

4.
Retira da tua mão as ânsias
as contundentes flores fatais
e caminha sem medo
para o abismo cruel de fractais
recria uma agonizante e clara
tépida sensação de vigor e desejo
mas entra para o rol das reclusas
dormentes de ânsia sem pejo
sai… corre e deixa aberto o seio
sorveria teu peito entre mil beijos
sôfregos, não fosse tua excêntrica vaidade
vem, corre e me abraça em meio
aos campos na terra e alfombra
dançando sobre meu corpo sem ambiguidade

Coelho de Morares – Maestro compositor, professor de Filosofia e Artes e Pedagogia, pós graduado em Artes Visuais: Cultura e Criação, e, em Literatura Portuguesa, dirige o TPM – Teatro Popular de Mococa produzindo teatro e cinema – premiado nestas modalidades – e mais Literatura, Música e Artes Plásticas. Vários de seus livros físicos versando sobre prosa, poética e dramaturgia foram publicados. Um renascentista do século XXI.