Crônicas do meio-fio, o “enigma do pântano” de WILLIAM ELOI
Crônicas do meio-fio, o “enigma do pântano” de WILLIAM ELOI

Crônicas do meio-fio, o “enigma do pântano” de WILLIAM ELOI

Não lembro bem como conheci William Eloi por aqui. Lembro que a amizade mesmo se desenvolveu depois que estávamos trocando umas ideias sobre referências e surgiu um papo sobre Artaud, Anaïs Nin, Henry Miller. “Tem esse livro no sebo de um amigo, vou pegar ele pra você.” Pronto, a amizade começa daí. O livro era “A hora dos assassinos”, um estudo de Henry Miller sobre Rimbaud. Além de me mandar essa preciosidade, mandou também seu último, “Crônicas do meio-fio” (Offset Editora, 2021).William Eloi, Arthur Rimbaud, Henry Miller

O livro reúne narrativas que o autor já havia publicado antes em espaços literários como JOL, Substantivo Plural, Tamarina Literária, Carta Potiguar e Mundo de Livros. Crônicas? Contos? Isso ainda importa a alguém? As narrativas são curtas e leves. Nem tão curtas que não nos provoque em algo. Nem tão leves que não nos atole um pouco no pântano de sua memória. Aqui reside a força do livro. “Livro a um só tempo leve e profundo”, como bem lembrou o poeta Eduardo Ezus, que assinou a quarta capa.

O pântano da memória. Mas é leve. Eu garanto. A aventuras da infância, as estrelas de rock, as estrelas do céu, o apreço pelos livros. Tudo ali, narrativas que você leria sem qualquer dificuldade em uma fila de banco, no ônibus, ou sabe-se lá onde diabos. Leves. O autor é “singelo como um passarim”. Sensível. Do tipo que se emociona com uma passagem de “O idiota”. As lágrimas que Dostoiévski lhe arrancou aparecem nos textos “Diga-me com quem tu andas” e “Sobre o que se cala”.

Quando Sérgio Sampaio cantou “lugar de poesia é na calçada”, ele falava mais do que sobre a inutilidade de se guardar um livro de poemas na gaveta. Ele nos mostrava um lugar onde a poesia certamente faz morada. Na calçada, ladeada por meio-fio. É daqui que surgem as histórias de “Crônicas do meio-fio”. E não me espanta que vez ou outra o tom poético tome de conta desse meio-fio que nos conduz às memórias afetivas do autor. Nostalgia e leveza, duas palavras que certamente virão à mente de quem se aventurar pelo “enigma do pântano” de William Eloi, com seu “Crônicas de meio-fio”.

*Publicado inicialmente em nosso site anterior, chamado Literatura & Outros Blues, no dia 06/03/2022.

Sobre o autor:

William Eloi nasceu no litoral paulista (Guarujá) em 1978, sob o signo de aquário. Radicado em Natal desde 1984. Ex-membro da banda de rock Electrilove (1998 -2002) com quem gravou o Ep “Strange thing Called Electrilove” (100 discos do rock potiguar). Participou da extinta HQ Hollos, como desenhista e argumentista. Vencedor do concurso de poesias “Um raio de poesia”, em 2008, com o poema “15 minutos”, promovido pela Faculdade de Excelência Educacional do Rio Grande do Norte. Cronista dos Sites Carta Potiguar, Substantivo Plural, Mundo de Livros, Tamarina literária e JOL. Em 2018 teve uma crônica utilizada como tema da redação de um concurso da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, “Cartas que (ainda) te quero cartas”. Ainda em 2018, participou da antologia de contos 2084: Mundos Cyberpunk, editora Lendari. Em 2019 lançou o livro de contos “A Vertigem seguida da Náusea”, pela Sol Negro edições. Participou da coletânea de contos “O Duplo” este ano. Tem como principias influências Henry Miller, Jean Genet e o grupo Calçada Quatro.

 

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