Era uma manhã de segunda-feira e por debaixo dos translúcidos raios de sol que se infiltravam por meio dos galhos da imensa jabuticabeira estavam eles, tentando se esquentar naquele gélido dia de agosto. Sentados sobre simples cadeiras de ferro, ainda vestiam pijamas, meia com chinelo, ele com uma curiosa touca azul… A ironia dos fabulosos trajes de inverno.
Enquanto ele lia, ela fitava os galhos da jabuticabeira, viajava nos raios de sol que com muita luta chegavam até seu rosto, além de refletir sobre o que ouvia. O livro falava sobre loucura, sobre tempos antigos, mas que eram muito parecidos com os tempos atuais.
Ao fim de cada capítulo, um momento de pausa e discussão sobre o que haviam acabado de ler. Eram pensamentos profundos que remetiam também a seus sentimentos íntimos e suas vidas pessoais. Eles se revezavam na leitura… Um escutava o outro com eximia atenção e admiração.
Em um momento enquanto o ouvia ler, ela avistou um casal de idosos subindo a rua ao lado, os dois agarradinhos pois fazia frio, pareciam tão bem e pacíficos. Então pensou: “Seremos nós um dia.” Quase falou a ele, mas não quis atrapalhar a leitura. Em outro momento, encarava a janela do sótão, de trás da casa e imaginava o dia em que ali teria uma singela varanda de madeira, onde em uma manhã eles tomariam café juntos, ele se sentaria em sua cadeira de balanço para ler seu livro e ela montaria seu material de pintura para iniciar a composição de um quadro. Foram segundos de devaneios.
Voltando à leitura, pararam para fazer a reflexão do capítulo percorrido. No momento em que ela falava, ele fazia gestos e caretas estranhas além de algumas risadinhas. Ela então se perguntou em pensamento: “O que esse louco está pensando? O que quer dizer?” Parou de falar e olhou para frente. Lá estava seu Daniel, passando disfarçadamente pelo canto do terreno para não atrapalhar o momento. O senhor pulou a cerca e rumou para o outro lado, enquanto os dois se olhavam e riam baixinho. Tudo acabou muito rápido, pois todo o tempo do mundo ainda é pouco para esses dois.

Amanda Alves Mallmann, natural de União da vitória PR, filha de pai professor de língua portuguesa e literatura e língua estrangeira inglesa e mãe costureira, passou sua infância e parte da adolescência em Blumenau SC, mais tarde voltando para sua região natal onde reside atualmente em Porto União SC. Formada em Licenciatura em Artes Visuais e com Especialização em Educação Inclusiva, atua como professora de arte na rede pública estadual de ensino de Santa Catarina, lecionando para alunos de todas as séries do ensino regular, sendo fundamental ao médio. A professora também atua com suas produções artísticas na região, como pinturas em tela e desenhos, além de apresentações extracurriculares com alunos. Amanda, apresenta uma visão de mundo criativa, enxergando arte até nos mínimos detalhes. Costuma observar sua vida como um livro, escrevendo e ilustrando cada capítulo.