A navalhada do dia será um trecho do romance Meu nome é Laura de Alex Alexandre, publicado neste ano pela Editora Confraria do Vento.

Lençóis esparramados sobre o colchão, flutuando em torno do corpo que se move em lento movimento, enquanto as molas se retorcem a cada passo e a cada salto, sobre a cama a alma, as imagens de dentro e de fora em conexão com alguma coisa que cresce e que pode até ser feita de medo, mas era feita de coragem e de um tanto de amor. Quando o lençol escorregava pelos ombros e tocava a pele fina do corpo magro e longilíneo, uma flor em algum jardim no mundo se abria.
A natureza das coisas que se expandem e obedecem ao querer,
ser fluído e ser,
abastecer o coração e ficar sem receio de nada.
Pedrinho deitava-se ao chão, exausto de tanto.
A mão escorregando devagar entre os contornos do corpo que estava vazio de tudo, ele sentiu um calafrio, era a voz que soprava um silêncio em seus ouvidos.
O que você quer? – Ele perguntou.
E a voz foi se deitando ao seu lado, os braços do menino a abraçando para reconfortar, e suavemente lhe sussurrando
Vem
– Pedrinho!
O menino deu um pulo enquanto o corpo se equilibrava para alcançar o colchão, escorregando e caindo em seguida, desequilibrando-se entre os lençóis que foram desabando um a um por cima de si.
Era a mãe.
Olharam-se frente a frente.
– Onde você quer chegar com essas brincadeiras?
Pedrinho não respondeu, foi ajeitando um lençol que agarrou no meio da confusão para cobrir o corpo nu e recostou-se no canto do quarto, enquanto a mãe acendia as luzes e vasculhava o ambiente com fúria.
Heloísa não disse sequer mais nenhuma palavra. O menino ficava observando cada movimento que ela fazia com brutalidade enquanto lançava os lençóis longe.
– De novo essa coisa de
– Não tem nada demais, eu só estava brincando.
– Seja homem! Onde já se viu, porque você não está lá fora brincando com os meninos?
– Eu não gosto!
– A vontade que eu tenho é de internar você em um hospício.
– Eu não sou um louco.
– Então é o que?
– Eu sou eu!
– Um esquisito.
Sobre o autor:

Alex Andrade foi um dos 20 semifinalistas do Prêmio Oceanos de literatura 2023 com o romance “Para os que ficam” editado pela Confraria do Vento editora em 2022. Nascido no Rio de Janeiro, Andrade escreve desde pequeno. Publicou os romances Antes que Deus me esqueça, Longe dos olhos, Para os que ficam e os livros de contos A suspeita da imperfeição, As horas, Poema, Amores, truques e outras versões, e os livros para as infâncias O Gigante, A menina que entrou na história, A menina e a sapatilha/O menino e a chuteira, A história do menino, O pequeno Hamlet, A galinha malcriada. Em setembro de 2024 vai lançar o romance “Meu nome é Laura “ que traz, segundo as palavras do premiado escritor Alexandre Vidal Porto, um livro sensível e comovente e muito bom de ler. O livro trata da Construção de uma identidade. E também o infantojuvenil O menino e as ideias pela editora Pé de palavra, livro que segue a linha do anterior A menina que entrou na história, publicado em 2023. Tem contos publicados em diversas revistas e periódicos de literatura e desenvolve vários projetos ligados a educação e literatura voltados ao incentivo à leitura e ao livro em comunidades e escolas municipais.