por Andreia Santos,
escritora e navalhista assistente
Tomando de empréstimo um trecho da canção Táxi Lunar de Zé Ramalho, “apenas apanhei a beira mar, um táxi pra estação lunar”. Experimenta-se a sensação de adentar uma atmosfera interplanetária, interestelar e intergaláctica, proposta por Iris Pongeluppi no livro de poemas: Veemente como o sol (Minimalismos, 2025). Uma viagem pelas profundidades dos sentimentos, perpassados por e pela natureza do ser humano e para além, a natureza enquanto meio ambiente. Vemos transbordar nos versos ou seria melhor dizer, que os versos transitam por esses dois polos, com maestria na imperfeição mais perfeita.
Iris recai profundamente em amores vazios, outros de uma intensidade incomensurável, que só versos pungentes podem defini-los. Uma sensualidade nem um pouco reprimida exala em seus versos: […] invadindo meu corpo/ minhas mãos (Desejando o arco-íris), ou neste outro trecho: […] Pele nua/ Penumbra/ Língua sua/ Arrepios/ Queime aqui comigo.
As dores de amores, os desejos, as ausências, as perdas, nada passa impune diante dos versos, que transbordam, em nenhum momento passam despercebidos, são profundos e aguerridos, como a natureza selvagem. Como pode ser notado em um trecho do poema “Você”: […] Te ver é colidir/ com o Cosmos/ Te ouvir é despertar para a luz.

A poetiza em seus versos mostra a dor de ser quem é e certo deslocamento por ter que sentir o que experiência. Desprender-se de si ou sair de local de onde se está seria a solução? […] Eu também gostaria de fugir de mim (Evasão) ou ainda: […] Mas, por enquanto/ vou renascer/e voar por aí/ criando sonhos/ no ninho que existe aqui (Espero).
Amor como centro. Amando tanto que beira o desespero, amar e desfalecer, esfacelar, virar poeira cósmica. O voo de uma realidade não tão bonita, mas que se torna bela poetizada por Iris. “Ela era um poema dadaísta queimando numa fogueira”. (Abstrato).
Vestígios de uma mulher vigorosa, intensa e que deixa fazer sentir todas as nuances que para ela se mostram, como ser, como natureza, como obstáculo, sem saber (ou mesmo duvidando) que é imparável. “Arranque fora e beije os meus espinhos” (Coragem). Mesmo sabendo-se grandiosa, cria em si (nos versos) um ser-nada, um ser-nulo, vazio, percebe-se este estado oco em: Nada. […] E eu apenas a sujeira/ Jogada na lixeira/ Do mundo.
Veemente como o sol é um livro necessário, por tocar no humano, não no que tange a pele, mas aprofunda-se no que está mais íntimo, ou melhor, naquilo que esconde-se por trás de camadas e camadas que pretendem velar os sentimentos, talvez para não doer, não se expor quem sabe para não mostrar as fragilidades. Deste modo, a autora consegue, em versos, perfurar essas barreiras e chegar ao âmago, sem pedir licença vão entrando e se entranhando, quando se vê estão fazendo morada.

Iris Pongeluppi (27/10/1994) é mineira de Belo Horizonte. Educadora, fascinada por arte e cultura, escreve prosa e poesia desde a infância (aos sete anos de idade).
Autora do livro de contos Intangíveis (2018) publicado pela Editora Poesias Escolhidas e do livro de poemas Veemente como o Sol (2025) publicado pela Editora Minimalismos. Em 2012, aos dezessete anos venceu o Edital de Ocupação da Galeria Caminhos do Futuro do Plug Minas e co-realizou uma exposição poética intitulada Ser / Estar 17° Degrau. Ademais, já publicou textos (contos, crônicas e poemas) em revistas literárias como Revista Barbante, Revista Lira, Beco dos Poetas, Ruído Manifesto e O Odisseu.