por Andreia Santos,
escritora e navalhista assistente
Por ser um livreto produzido em papel cartão, com folhas recicladas, prendidas por grampos poderia passar despercebido, mas não com o título: “Ragtimes, beijos na nuca & buracos no peito”, o livro de poemas de Edvaldo Ferreira, que faz parte da Coleção Literatura de Buteco, apresenta uma capa em estilo noir e poemas que circundam a cidade, amores, dores, bebidas e músicas.
Em quarenta e cinco páginas o autor poetiza a prosa de uma cidade em que seus habitantes sofrem dores de amores que se equilibram em uma cidade que também os faz sofrer ou sonhar ou lembrar ou perder as lembranças. Intensidade é o que vemos em Ragtimes. Como pode ser observado no poema “Pra onde os pombos vão quando a noite cai”: “Tenho pensado em acertar as contas com os deuses/Quebrar o bar/e te chamar pra dançar/ tenho pensado em fugir”.
O autor também ironiza e por meio da metalinguagem mostra o drama e o gozo de escrever poemas, conseguindo ser irônico. “Um poema quase feito” contém “sérias” verdades: “mas poesia não enche barriga de ninguém”. Em “Solilóquio”, poema de abertura: “Escrever é compor música para uma audiência surda”.

Os ébrios estão por toda parte e onde há bêbados há grandes histórias que viram prosas, versos ou ambos. Blues e Jazz se encarregam de dar o toque triste, carregado, melancólico. “Ragtime” é um exemplo: Você tá bêbada assim como eu/ e tropeça Mas logo começa a dançar/ Leve e suave como nem o vento consegue ser .
Os poemas parecem que seguem alinhavados. Tendo um mesmo personagem que vai despejando suas histórias. Um personagem em primeira pessoa, que se arrasta pelo amor de mulheres, sim, no plural, porque nos poemas elas conseguem parecer múltiplas, ou teriam várias personalidades. Feeling Blues: Seguimos assim/ Escrevendo poemas ruins/ Para mulheres que nos deixam felizes/e obras-primas para as que nos deixam.
Seguimos esperando mais poesias profundas como as de Edvaldo que tocam em temas sensíveis e conseguem ser irônicas, reflexivas, mas que têm uma qualidade literária incrível.

Edivaldo Ferreira (São Paulo, 1992) trabalha com legendagem e tradução. Cursou o Programa Formativo para Tradutores Literários da Casa Guilherme de Almeida em 2020. Traduziu poemas do Dan Fante para o livro “Cara a cara com os nebulosos olhos de Deus” (P55 Edição, 2025). Participou da antologia “Cidade Sombria” (MMarte, 2018), uma coletânea de contos noir ambientados em Goiânia. É autor do livro “Ragtimes, Beijos na Nuca & Buracos no Peito” (BAR Editora, 2016).