DUDA JUNQUEIRA – 4 poemas
DUDA JUNQUEIRA – 4 poemas

DUDA JUNQUEIRA – 4 poemas

A navalhista de hoje é Duda Junqueira. Da poeta, segue 4 poemas do livro Nada mais será sagrado, que está sendo publicado pela Editora Nauta.

Revista O Navalhista

eu versus meus amigos

                  (vocês não diferem em nada deles,

vocês não diferem em nada)

quando verlaine atirou em rimbaud

eu só queria ser levada a sério

por algum homem

eu só queria desenvolver a ação

de dizer um sentimento válido

quando se foi alta no céu a lua

[de primavera de fernando

eu só queria ser amada

intensamente por alguém ou moderadamente por todos

a glória da atenção se misturava

com mistério

à sensação de amor

quando adília chorou no banheiro

[com portas fechadas

eu só queria viver

como uma pessoa normal

uma pessoa com pormenores e pormaiores

alguém que não se alastrasse

feito veneno

nas veias dos outros

quando francisco devolveu a eles

[o sobressalto

eu queria fazer parte de algo maior

e me encontrei no ódio

na letra no beijo maiúsculo

na queimadura no sopro no músculo

e procurei não me levar a sério

não mais me amar

não mais viver

procurei por

seguir

somente seguir

despretensiosamente

Revista O Navalhista

intenção

você entope suas veias cavas de vinho tinto

e continua apolíneo

eu sequestrei o sol e o mantive de refém

[no meu porta-malas

e continuo dionisíaca

digamos que não tentássemos

ser exatamente o oposto do que nascemos

digamos que talvez um dia

entendêssemos esse destino compartilhado

um dia em que eu e você trouxéssemos

porventura

a chave

será que em meio à selva

uma fera saberia reconhecer a outra

mesmo que cega de ambições?

Revista O Navalhista

marte

meu pai repousa a mão sobre a minha cabeça

como se eu fosse

um bichinho de pelúcia

ou um abajur quebrado

qualquer coisa de objeto inanimado

e ele diz filha

tem algo de muito errado

com o seu sistema límbico

Revista O Navalhista

os sinos

no meu grande sonho

estou apta e na praia

despida e destoada

sem canoas e sem notícias

sem medo nem ingratidão

sinto somente o mar o tempo

e essa dor nos ossos

ouço somente os sinos

acompanhados das gaivotas

na boca o sabor de graviola

uma luz inútil já terá entardecido

tomara que assim seja um bom jeito de esperar

as palavras me alcançarem para eu poder enfim

te dizer qualquer coisa de melhor

que isso


Duda Junqueira

Nascida em Jundiaí, interior de São Paulo, ao sol de Libra e em 2003. Graduanda em Direito pela PUC-SP, escritora e dançarina de pole dance. Eternamente apaixonada e super supersticiosa. Faz colagens e criações livres em seu blog fumante passiva. Publicou o livro se uma árvore cai pela Editora Patuá, em 2022. Nada mais será sagrado é seu segundo livro de poemas. Saiba mais, talvez, em @dudajunqueiira.

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