A navalhista do dia é Ana Luz. Os primeiros 5 poemas são do livro Quadras (Editora Folheando, 2023), os dois últimos são inéditos.

No mato
Todo o resto dispenso.
Só autorizo a falar,
por mim,
este infindo silêncio.

Eterno
O instante não existe,
por definição.
O agora é crisálida,
larva infinita.

Lampejo
No enorme riacho
da criatividade,
às vezes pesco
uma parruda fagulha.

Quilômetro
A lonjura da fala para a escrita,
metro que lê o que não grita.
Mas não basta ouvir silêncios.
É preciso alfabetizar as distâncias.

Ágrafa
Embora me apresente grafada,
sou composta de silêncios.
Está anterior à fala
o que digo no momento.

Reverência
Essa crosta pecadora
Que ora vos fala,
Despida de toda crista
Acéfala e canalha,
Se prostra perante
O fulgor das cinco chagas.

Janela
Dono do sol,
dos mares e da Justiça,
Afaste meus pés da areia
Movediça.
Criador da luz e da lua,
Defenda minha vida
Contra toda intenção funesta,
Me permita ser uma simples fresta
Neste mundo deveras hermético.

Ana Luz (Vitória da Conquista, 1989) estreou com “Poeta em Pânico”, em 2020. Ainda na poesia, em seguida vieram “Fragmentos” (2021) e “Quadras” (2023), vencedor de concurso com chamada nacional.
Fundadora do Coletivo de Escritores Conquistenses, diretora da Casa da Cultura de Vitória da Conquista, faz questão de ler e divulgar seus pares nas redes sociais.
Pós-graduada em psicanálise, chegou a exercer Direito, mas fincou raízes no campo.