RAFAEL LIMA MIRANDA – 4 poemas
RAFAEL LIMA MIRANDA – 4 poemas

RAFAEL LIMA MIRANDA – 4 poemas

Os poemas que seguem integram o livro Idioma, que saiu este ano pela Editora Litteralux.

 

 

Revista Navalhista

 

 

Momento

 

A câmera lança a armadilha

com o furor de sua lente –

laça o momento que escorre

inexoravelmente.

 

O momento domesticado

como um cachorro com boas maneiras –

a fotografia explícita

abrandando os lapsos da mente.

 

Uma foto esconde grades

e espelha o oceano das inseguranças.

Dentro dela sorrisos fugazes

anseiam permanecer.

 

 

Revista Navalhista

 

 

Obsessão

 

As cortinas do mirante

se abrem sobre o mar imenso:

espumas encaracoladas engolem

o surfista desequilibrado.

 

Os binóculos do mirante

descobrem o mar e seus incensos:

as ondas que insistem em desabrochar,

os surfistas que insistem em viver.

 

O surfista persiste

em sua caçada agoniada por uma onda

que seja presa de sua prancha –

todos que surfam são domadores de leões

e cada centímetro de mar

é um candidato a algoz.

 

Trava-se a luta por uma onda perfeita

onde se inscreva o corte da prancha

e, das espumas marítimas, 

soprem os versos

dóceis à caneta bruta.

 

Para que o surfista suba no mirante

e assista à distância sua obra:

espectador e protagonista

– poeta –

entre erros e acertos nas manobras.

 

 

Revista Navalhista

 

 

Píer

 

No píer as águas ficam mais próximas:

a corrida esbaforida sobre as veias rochosas

é um claro teste de resistência

da transparência em uma tela cinza.

 

As espumas escalam a tela pétrea

e lançam sua rede em um embate colossal –

o tempo evolui para eternidade

nas veredas deste enlace mineral.

 

O mar e as rochas são permanência

aos olhos da mulher no píer –

sonhos intensos são gerados

no estalo de um coração efêmero.

 

O mar e as rochas hipnotizam

a espectadora sobre o píer:

como as águas ela também beija

a aspereza da pedra.

 

 

Revista Navalhista

 

 

Perigo

 

Os homens disseram que o amor

é mais violento do que uma bomba.

As lâminas das línguas

percorrem o labirinto sangrento,

cortam-se até as vísceras.

 

Os homens proibiram o amor.

Tornaram-no um ato revolucionário.

Por conseguinte,

no esconderijo dos afetos

os homens se encontram.

 

Os rios de sangue são naturais

como as águas doces

que acalentam o efêmero

onde os casais se enamoram.

Um amor doce, se vigiado.

 

Desde então o beijo insurgente

entortou os dinossauros hipócritas

em um caudal de argumentos rasos.

O ódio ergueu as barragens contra o amor

e o que fluiu foi o sangue dos mortos, justificado.


RAFAEL LIMA MIRANDA

Rafael Lima Miranda (07/02/1990) nasceu em Cubatão-SP. Escreve poemas desde os 13 anos. Atualmente mora em Guarujá-SP e trabalha como servidor público. É formado em Letras na Unesp de Araraquara. Integrou a coletânea “100 poemas, 100 poetas – volume 2 (Literacidade, 2013). Tem dois livros publicados: Nascente de palavras (Literacidade, 2014), Espectros da Inação (Patuá, 2019) e “Idioma” (Litteralux, 2025). Instagram para contato: rafa_lm90.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *