Maria, mulher de meia idade, andava preocupada pois as “regras” não desciam e já havia outros filhos que dependiam dela.
José, seu marido, no entanto, não se deu ao trabalho de se importar com a situação. Para ele não havia preocupação, nem com Maria, muito menos com os filhos. Nem parecia aquele, tão cheio de amor com quem Maria se deitou anos atrás.
Os meses passavam. A barriga crescia e a ausência de José também. Ele, que embora prometesse vir do trabalho direto para casa, parava antes no bar.
E então, nasceu Natali (O nome foi escolhido pois era Natal), filha de uma mãe e quase uma “sem pai”.
A mãe sofreu durante toda a gravidez, mas manteve-se forte até o parto. Do hospital, foi para casa, onde as outras crianças esperavam.
José quase não aparecia. Os vizinhos já diziam que ele estava com outra. Mesmo assim, um dia, passou para ver a filha. Chegou dizendo que ajudaria com dinheiro… infelizmente essa ajuda nunca chegou.
Para Maria, Natali seria a última, pois precisaria voltar ao trabalho. Não que fossem trabalhos seguros, mas com eles sustentava, com a ajuda de padrinhos, sua família, seus meninos.
Em seu coração, a mãe pedia que desse tudo certo para sua filha. Seu nome era abençoado, nasceu numa época tão mágica … Deus não iria falhar. Com certeza, ganharia um dia, assim como os irmãos, um rei mago, um padrinho, para sua vida iluminar.
Mãe “Arco-íris”
Toda mãe é “Mãe Arco-íris”, mãe de gente dos mais diversos tipos. Cada um com seu jeitinho.
Maria era mãe de dois “rapazes”, mas em 2016, ganhou uma filha.
Hoje, Alice tem oito anos, nasceu sem que a família a esperasse. “Raspinha do Tacho”? Sim e não. Alice sempre estivera com eles conosco, mas eles não as percebiam. Chegou de surpresa. Foi recebida pela mãe, pelo pai e pelo irmão. Curiosidade, ansiedade e dúvidas povoavam suas cabeças, o que é comum na chegada de um novo membro da família.
Desde que a Alice chegou, Maria se pegou aprendendo novamente a ser mãe. Mergulhava diariamente no universo feminino e começou a enxergá-lo sob uma nova perspectiva. A filha a presenteava, diariamente, com a visão de como era importante o Amor, o Respeito e a Tolerância.
Há 29 anos, Alice nasceu André, mas percebeu que sua essência era divina e que seu corpo era apenas o envoltório para seu “eu” verdadeiramente feminino.
E, desde então, Maria é mãe de uma Mulher Trans, com muito orgulho. Para ela as pessoas transgêneros deveriam se chamar Coragem.

Katia Paiva – A autora se descobriu poetisa em 2024. Desde então participa de antologias pelo Brasil, sobre os mais diversos temas, com poemas aprovados e publicados. É graduada em Arquivologia e pós-graduada em Biblioteconomia e Direito Homoafetivo e de Gênero. É servidora pública e mora em Brasília com sua família (humana e felina).