
nosso sangue na lona nunca esfria
o sonho de escapar desses combates
intermitentes sobre o calendário
aberto como um mar preso nos gráficos
nossa bússola incerta nos mantêm
próximos apesar das tempestades
nosso passado impróprio nos convida
para o revés da morte que nos mata
nossa ausência escorre entre os trabalhos
em cartas muito sérias sobre o amor
inevitáveis como os nossos nomes
desenhando o vermelho e o azul dos mapas
que guardamos em nossos corações
eternamente jovens contra o tempo

recomeçam os pores do sol
e tu não sabes onde me encontrar
o teu aniversário apaga as luzes
do horizonte que alcançam os meus olhos
e o teu sopro de vida a cada hora
desfolha um novo eu que voa longe
espalhando os aromas do teu corpo
em toda a paisagem do caminho
à espera de um sinal extraterrestre
que aponte uma saída pros problemas
escondidos de ti desde o começo
dessa bagunça antiga nos segredos
rituais do penhasco andino entre
o atlântico e o pacífico do sul

pó vento cinza e sal amortecendo
corpo chão barco e água por saudade
de uma metamorfose repetida em
outros seres apenas muito perto
e quem a gente é mudando tanto
as ordens dos fatores disponíveis
em nossa via láctea paciente
ceifeira dos viventes sãos e insanos
mas como a gente pode ser feliz
vivendo como estrela além da vida
constelar da ciência que nos prova
orgânicos e belos como os peixes
que ‘inda cantam nos mares mais desertos
mas abertos ao trágico futuro

entre um amor e um lar estendo as mãos
lavadas nas memórias de um ser frágil
no reino dos olhares imortais
procurando seu rosto e uma canção
com uma força plácida de adágio
em gestos que trariam você mais
longe das intuições feitas de não
se essa distância não fosse um naufrágio
ou se não fossem meus os vendavais
repentinos nas horas do verão
mas as saudades são um apanágio
para os meus olhos de minas gerais
dentro de um mundo grande e repetido
como os lagos nas casas dos cupidos

relógio
tremo sobre os pesadelos de pontes
notáveis como as asas de uma nave
ávidos como a marcha de um cavalo
atravessando a noite escura e fria
depois do sol crescer o ferro quente
do pecado estendido entre essas margens
partidas por amor às águas doces
da montanha que nunca conhecemos
e depois eles é que tremem quando
mostro o som do meu tombo matutino
e quebro as flechas vivas da alvorada

amor amiga mestre mais querida
quanto ainda consigo me esquecer
de ti para existir depois do fim
sair do sol atrás do teu sorriso
sem fim dentro da foto que tirei
antes de teres tu te retirado
entrar nos dias grandes como um sonho
no tablado da língua vindo abrir
a cortina dos olhos pro auditório
à espera duma história além de nós

Marcos Oliveira Jr. nasceu em novembro de 1994, na cidade mineira de Camanducaia, onde começou a ensaiar seus primeiros poemas. Mais tarde, em Florianópolis, durante a graduação em Letras (UFSC) intensificou sua escrita, com ambições de poeta. Também é professor de língua portuguesa e literatura da Educação Básica.