ENZO PEIXOTO – “Declaro-me: o sopro das rosas” [resenha]
ENZO PEIXOTO – “Declaro-me: o sopro das rosas” [resenha]

ENZO PEIXOTO – “Declaro-me: o sopro das rosas” [resenha]

por Andreia Santos,

escritora e colunista na Revista Navalhista

(perfil completo)

Um minimalismo estrondoso: Declaro-me: o sopro das rosas

Intenso, delicado, profundo e sutil, como conseguiu ser tão paradoxal assim? O livro Declaro-me: O Sopro das Rosas de Enzo Peixoto é assim, uma obra surpreendente, pois sentimos que um fio, muito singular, atravessa a intensidade e delicadeza. Cada verso pulsa como se fosse o próprio batimento de quem escreve.

As poesias contidas no livro fluem ritmadas, ora são silêncios que nos levam a lugares dentro de nós mesmos, ora gritam para sairmos e querermos mais, seja do mesmo ou de outras possibilidades. No entanto, é impossível, ao ler, não sentir e se identificar.

As ilustrações de Zack Miranda dialogam com o texto de modo muito íntimo, quase como nascessem dos próprios versos. Traços delicados, minimalistas, que não disputam atenção com as letras, mas completam o sentido. As imagens oferecem pausas visuais, espaços de contemplação que prolongam a emoção provocada pelo texto. Ler O Sopro das Rosas é percorrer um jardim sensorial em que palavra e desenho se entrelaçam.

É como se o livro operasse num regime de dueto, no qual palavra e imagem alternam protagonismo. Essa fusão lembra a ideia de “poema-objeto” em Joan Brossa, embora aqui a materialidade esteja menos na manipulação física e mais na criação de um espaço sensorial integrado. Ler O Sopro das Rosas não é apenas seguir uma sequência de versos; é caminhar por um território em que cada página é uma pequena instalação artística.

A força dessa poesia está na capacidade de escrever muito com pouco, de se instalar no espaço entre a palavra e o não explícito. Peixoto não teme o silêncio; ao contrário, parece compreendê-lo como parte essencial do poema. Há versos que soam como um sussurro no ouvido, e outros que se abrem como pétalas — um equilíbrio raro entre contenção e entrega.

Ela oferece uma experiência literária que é, ao mesmo tempo, estética, afetiva e sensória. É um livro para ser lido devagar, permitindo que as palavras assentem no pensamento e reverberem no corpo. Num processo de degustação, deglutindo as palavras e os sentimentos. É uma obra que conversa tanto com quem busca poesia pela beleza da linguagem quanto com quem a procura como abrigo emocional. A cada leitura, novos sentidos se revelam

A força da obra está revela-se no que o poeta escolhe não dizer diretamente. O interdito, o não-dito, os silenciamento, as brechas e as polifonias. Peixoto domina a arte de criar lacunas — e é justamente nesses espaços que o leitor se insere. É uma ilusão pensar na aparente simplicidade dos versos, eles escondem/mostram uma inversão significativa: os espinhos, normalmente associados à dor e à defesa, recebem uma dimensão positiva. É uma virada sem escândalos, embora possua uma força simbólica.

Declaro-me: O Sopro das Rosas é uma ode a experiência estética. A obra atende a diferentes perfis de leitores: aqueles que buscam a beleza da linguagem encontrarão nela um campo fértil; aqueles que querem identificação emocional, um espelho honesto; e os que contemplam o diálogo entre literatura e artes visuais terão, nas ilustrações, um prolongamento sensível da leitura.

Enzo Peixoto demonstra que a poesia pode ser íntima sem ser ensimesmada, delicada sem ser frágil, e que o silêncio, quando bem administrado, é tão expressivo quanto a palavra. Ao se deparar com o livro os poemas/ilustrações consegue-se trazer para o íntimo não apenas os versos, mas um estado de espírito — como se carregasse, nas mãos, um ramalhete vivo, capaz de perfumar dias e noites.

Não se trata apenas de ler o livro, mas de senti-lo, como um organismo vivo. Delicado como as flores, mas não frágil, porque há os espinhos. Louvemos, pois há obras que se consomem; outras, como esta, nos devoram um pouco — e, nesse deguste recíproco, nos transformam.


Enzo Peixoto

Enzo Peixoto nasceu em São Luís, capital do Maranhão, em 20/08/2004. Sempre voltado para escrita, aos dezoito anos publicou “Declaro-me: o sopro das Rosas”, seu livro de poemas e de estreia. Atualmente, é estudante de Medicina da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e prepara um novo livro, de contos. Os seus textos abordam temáticas universais, embora sob uma contextualização local: poemas musicados e narrativas em prosa em que a amorosidade, as reflexões e o ritmo conferem singularidade às suas construções literárias.

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