por Jojo Dieira,
escritora e colunista da Revista Navalhista
Poeira de estrela de Félix de Alcântara reacende nas palavras o sentimentalismo da infância. É como se cada palavra fosse uma estrela brilhante pronta para invadir a mente dos leitores. Em uma narrativa sensível e tocante, somos apresentados a David, um menino que queria conhecer as estrelas (talvez, porque também fosse uma), um menino aficionado por essas luzinhas, tanto que “andava com o bolso cheio delas” (Alcântara, 2025).
Ao desbravar as páginas, nós nos deparamos com as ilustrações coloridas e divertidas de Clara de Oliveira que nos despertam o desejo de viajar também para lugares longínquos que somente a alma poderá alcançar. Posto que o coração do viajante assim como o bolso de David é carregado de histórias.
Uma leitura sensível e agradável nos faz pensar sob o nosso papel no mundo. Além de nos instigar a adotar uma postura de protagonismo frente às adversidades da vida. Quantas vezes precisamos nos despedir de nossos sonhos para seguir adiante?
O próprio título da obra Poeira de Estrela de Félix de Alcântara nos provoca a ponderação apresentada que uma vez foi levantada por Carl Sagan: “somos poeira de estrelas”. Porque sim, somos. Somos as nossas infinitas reinvenções ancestrais, atemporais e até mesmo cotidianas. Nesse não se abandonar de quem foi esse escrito nasceu de um menino que um dia se transformou o seu pensar e anseio nessa pequena grande história, o autor Félix Kairós.

A obra reflete sobre o poder das escolhas e a importância de sonhar para concretizar. Os saltos dados por David ao desvendar o universo nos fazem pensar em nossos próprios fascínios. Como podemos seguir esses desejos que suscitam no coração?
David é instigado pelo fascínio a aprender e ensinar sobre os planetas e as estrelas em uma simples brincadeira chamada Amarelinha. Com essa mesma leveza e delicadeza compõem os passos de uma brincadeira, desvendando universos além da imaginação.
Por meio de um olhar sincero de criança, revela experiências sensoriais, pontuando as peculiaridades de cada parte. De cada traço existente nos planetas que descobre (mas os detalhes existentes em cada planeta deixarei para você a descoberta). Não importa a idade e sim a curiosidade.
Aprende-se brincando e se brinca ensinando, sem querer. Só acontece, sem perceber. As ilustrações dialogam com os textos possibilitando um conforto visual e interno. Como um sonho bom que inicia com o serrar dos olhos e continua com o palpitar do coração.
Para os amantes de literatura infantil, é uma obra de recordações. É inevitável ao ler não lembrar de alguns momentos da obra O Pequeno Príncipe, seja pelas viagens. Seja pelo fato de ser um menino desbravando um mundo. David se apresenta como um menino no constante dilema: eu e o mundo. Nessa complexidade, constrói-se a identidade por meio dos saberes do mundo.
O livro resgata a criança curiosa que reside em cada um de nós. Transforma o mundo em lugar da construção do eu através de sensações. É uma obra sinestésica e interativa.

Entre o Niilismo e a Anarquia, Félix Kairos é um constructo de escritas. Nasceu aos dezoito, ainda cursando Letras pela UFMG, e então se instaurou o caos. Toda a sua dor foi para a construção de uma estética artística extensa. Com publicações acadêmicas e literárias, Félix tenta buscar rupturas narrativas ou limites, que é onde nasce Kairós. Publicou Carnal (2022), O único e eterno rei Momo (2023), O lírio e a Lua (2024), Madame Lua (2025) e Poeira de Estrelas (2025). Mestrando de literatura, o autor busca ideologias que compõem um corpo político, de onde surgiram inúmeros personagens pendulares, entre o profano e o irrefreado – como Madame Lua. Alimentado pela cultura pop e outras artes, Félix Kairos constrói a passos largos um universo grande e caótico para construir um conjunto de corpos sem órgãos, de monstros, crianças e outros vilões inconformados.