Com a navalha: Carla de Paiva. Ficamos agora com 3 poemas dela.
(é tempo de semear)
ao retorno que não fiz, ao caminho, à espera, os pés rachados que ainda podem – e vão – sangrar.
palavras não escritas, não esperadas, quiçá, não lidas; este profundo e indomável desejo de silêncio, reclusão, auto exílio.
é tempo de semear…
a voz que grita, profanando o véu do silêncio
ninguém, ninguém, ninguém ouve.
guardo-a distante dos que sempre possuem algo a dizer
temerosos do seu próprio silêncio.
tempo de estiagem
tempo de gente apressada
silêncio gritado
dor.
… tempo de procurar entre escombros a cura.
revogando a fé que existe no outro,
em mim.
aninhada à introspecção,
fortalecendo armaduras rachadas,
aguardando até que passe a invernia
enquanto semeio em terras inférteis.
é tempo de portas fechadas.
a saudade é um assombro que estraçalha
se recordo
tu existes?
se ao novelar pensamentos a ti
estes chegam ai teu destino?
não corre no rio a mesma água de outrora, diz o filosofo
e no entanto, a estiagem do meu sertão goteja a tua ausência,
derramando sob mim a tua existência.
sigo,
tomada pela imposição da vida.
com pedras no bolso toco a áspera saudade deixada por ti.
segredada a não guardar segredos
uma confissão que me rasga o tecido grosso da minha pele desgarrada pelo tempo.
sentir – afogar sob uma poça quase enxuta de água parada; buscando incessante pelo respiro que me destrave o peito.
da janela que invento,
te olho.
da paisagem morta,
te encontro.
vivendo a fome da tua memória
(des)conjulgando os verbos.
domingo perpétuo de fim de tarde,
a poesia que me engole
vomita teu nome
inscrito saudade.
Severina Carla de Paiva, nasceu em 20 de Julho de 1993, na cidade de Iracema – ceará. Autora das obras “A quem o teu sentir afeta” (2020) pela editora Flyve, “As sombras na sala de estar” (2022) pela editora Folheando e “O canto da Estrela Dalva” (2024) pela editora Patuá. Carla de Paiva tornou-se imoral na academia Iracemense de Letras e Artes, ocupando a cadeira de número 19; além de participar ativamente de revistas literárias.
