CLAUDIO VENTURA – Um dom único [conto]
CLAUDIO VENTURA – Um dom único [conto]

CLAUDIO VENTURA – Um dom único [conto]

Ana e João eram um casal como outro qualquer. Após 4 anos de namoro, casaram-se e tiveram o primeiro filho.

Isabela, ou Isa, como apelidada pelos pais, nasce como uma criança qualquer. Mas logo na primeira mamada nota-se algo peculiar: a bebê não consegue executar 2 atividades simultaneamente. Algo involuntário como respirar e bater coração ao mesmo tempo por exemplo. Ela as intercala, e ao mamar, para de respirar e seus batimentos cardíacos idem.

Ana e João ficam alarmados, mas após uma maratona de médicos das mais distintas especialidades, nenhuma enfermidade é diagnosticada. A condição de Isa é inédita na história humana.

Os anos se passam rapidamente. Isa aprende a intercalar as atividades de maneira coordenada aos milissegundos. Assim, consegue ter uma vida praticamente normal. Somente os olhos de seus atentos pais percebem a sutileza com que Isa administra as mais diferentes ações nesses milissegundos.

Num dia qualquer, aos 12 anos de idade, Isa percebe algo realmente diferente. Ao parar de fazer toda e qualquer ação por apenas alguns milissegundos, sua consciência se teletransportava para um mundo desconhecido.

Ela esconde isso de todos. Aos poucos vai exercitando essa habilidade, que ela chama de “atividade zero”, ao mesmo tempo que começa a explorar esse mundo alternativo. Gradativamente aumenta o tempo que consegue ficar imersa nessa nova realidade de milissegundos para segundos, depois para alguns minutos.

Ela vê vultos parcialmente cobertos por uma névoa branca, seca, não úmida como o orvalho das manhãs frias.

Certa noite, Isa se surpreende ao visitar esse mundo paralelo. Ela ouve uma voz feminina, que lhe adverte:

– Isa, não venha mais para cá!

Após uma pausa de alguns dias, ela toma a atitude mais esperada para uma criança de 12 anos: ignora o aviso e decide então retornar àquele mundo paralelo.  Deita-se em sua cama. Inicia seu processo de concentração, interrompendo a respiração, os batimentos cardíacos e por fim, suas ondas cerebrais.

Sua consciência está no mundo paralelo. A voz lhe diz:

– Somos uma raça alienígena. Nosso planeta físico foi destruído, mas conseguimos desenvolver a habilidade de transportar nossas consciências para um mundo paralelo. Milênios mais tarde, encontramos um planeta com vida e decidimos nos estabelecer. Escolhemos os primatas para serem nossas cobaias, e a partir da evolução da raça humana conseguimos encontrar corpos físicos para a maioria de nossa raça. Quando ocorre a morte de um humano, a consciência volta para nosso mundo para aprimoramento contínuo de nossa espécie. É o que vocês na Terra chamam de reencarnação.

Tudo aquilo até que fazia sentido para uma menina de 12 anos. A voz segue:

– Isa, sua habilidade foi um erro da natureza, nenhum ser humano deveria ser capaz de, voluntariamente, visitar esse mundo. Quando você na Terra faz “atividade zero” é equivalente ao estado de morte. Por isso você consegue vir para nosso mundo. Nosso segredo deve ser protegido dos humanos, caso contrário as religiões que pregam a vida da alma após a morte perderiam sentido. Como voltou aqui, apesar de nosso aviso, vamos impedi-la de retornar à Terra.

O corpo de Isa, na Terra, respira, com isso, sua consciência retorna a nosso plano terrestre. Logo ela vê seus pais, e lhes diz baixinho, em uma empolgação de uma menina de 12 anos:

– Vocês não vão acreditar no que eu vou contar!


CLAUDIO VENTURA

Claudio é fã de filmes e livros desde criança. Aos 10 anos, começou a escrever pequenos contos e poemas. Na adolescência, expandiu o escopo de seus textos. Aos 25 anos parou de escrever, seguiu carreira como engenheiro. Aos 53 anos voltou a escrever contos e poemas. Aos 55, começa a publicar sua obra.

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