Com a navalha: João Victor Mingrone. Segue 3 poemas em prosa dele.

Batalhas interestelares
Ó grito vivo das estrelas, mistério primordial e de infinita apreciação. O olhar do poeta apaixonado, o suplício do doente, a imaginação da criança.
No coração há uma batalha, Deus puxa com força os ásperos chifres do Diabo. O artista olha para as estrelas, uma em particular parece mais brilhante que as outras. Seu olhar é tomado pela extrema compaixão da criança faminta no sol quente. O Diabo se recompõe, mordiscando e desfigurando o rosto de Deus. Para a estrela, o homem amaldiçoa o irmão bem sucedido. Esgotam as forças de Deus e Diabo, e descansam até nova batalha… Estrelas. Estrelas, eternas confidentes.

Pé na cova
Perto da grande iluminação divina, já ostentando muito tempo vivido, o velho procura o doce: o cheiro de leite materno, as flores da primavera.
A rugosidade namora o desejo, gerando conflito e sobrando a fantasia. Memórias da mocidade invadem o corpo fraco que há muito era celebrado. Um sonho? Morrer na vida, ao lado da primavera de seios macios e flores coloridas. Ela me afronta. Sinto um cheiro, madeira seca banhada por lágrimas de tonel: ”Ó destino maldito que foi-me reservado”

Fugere Urbem
Olhos mudos pela paisagem, essa é a cidade! Fumaça, luz, vaidade. Pobre a criança que exorciza a solidão na luz artificial, maldito anjo inocente, não sabe que a morte é branca, fluorescente?
Em ritmo solene, vá, seja feliz, cante com a cigarra, festeje a colheita e faça travessuras juvenis. Verá como poderia ter sido feliz. Doce anjo burro, tardiamente despertou e agora com pouca vida olha para o campo, seu olho arde em brasas. É uma raridade, um anjo caído abençoado, não tem nada, é um pobre moribundo, ao menos vê a beleza de “Convite a Marília”.

João Victor Mingrone, nascido em 2003 em São Paulo, encontra inspiração no caos urbano que permeia a cidade. Estudante de cinema no Centro Universitário Belas Artes, é amante da literatura, tendo como grandes inspirações Rimbaud, Balzac e Dostoievski. @jvmingrone