MARIA APARECIDA – 6 poemas
MARIA APARECIDA – 6 poemas

MARIA APARECIDA – 6 poemas

A navalhista do dia é Maria Aparecida. Segue 6 poemas.

 

 

 

 

ARACATI

O crepúsculo vespertino quente e árido
Com o qual o sertão encerra os dias
Se transforma mais tarde em belo sopro
Que traz junto pra nós uma brisa fria
Que é chamada também Aracati
Essa brisa se encontra bem ali
E à noite espalha alegria.

Ele chega varrendo os tabuleiros
Desgrenhando as plantas em desatino
Mal se sabe exatamente de onde veio
Como não saberemos seu destino
Com audácia assobia no telhado
Vai deixando qualquer um descabelado
Seu barulho no capim parece um hino.

Há quem diga que esse ar tão refrescante
Surge no litoral do Ceará
Eu não sei de onde vem tanta riqueza
Que em segundos o calor vem esfriar
O que importa é que em noites de verão
Sejam claras ou mesmo na escuridão
Essa brisa audaz vem nos visitar.

Esse vento que refresca a multidão
Quando chega deixa as folhas dispersadas
Traz lembranças sejam boas ou ruins
Também traz o cheiro de terra molhada
Se for forte leva até assombração
É costume das pessoas no sertão
Esperá-lo sentadas nas calçadas.

 

 

 

NATUREZA ESTONTEANTE

Ao contemplar o universo
Encontro inspiração
Diante da imensidão
Vou construindo meus versos
Com o infinito eu converso
Em linguagem e pensamento
Sinto na pele o vento
Transformando em melodia
O sopro da brisa fria
Servindo como acalento.

Observo a natureza
E tudo que Deus deixou
A flor e o beija-flor
Tanta beleza encerra
Aqui no planeta Terra
Tudo foi arquitetado
Os dias ensolarados
Que fortificam a vida
Pela estrada aquecida
Por onde eu tenho andado.

Vejo rios, lagos e o mar
Com águas doces ou salgadas
Umas quentes outras geladas
Não posso nem mensurar
Apenas observar
De cada qual a beleza
Seja onda ou correnteza
Vale a pena assistir
E todo barulho ouvir
Das obras da natureza.
Não há como ignorar
As maravilhas do planeta
O pouso das borboletas
Nos jardins, a enfeitar
Com flores a se misturar
Dando um lindo colorido
Que não pode ser ouvido
Mas pode ser enxergado
Pelos olhos, apreciado
Pelo o coração sentido.

Quando vejo os pardais
Fazendo ninhos no teto
Sem precisar alfabeto
Ou de números naturais
Me emociono demais
Por tamanha habilidade
Feitos com simplicidade
E tanta sabedoria
Que eu aprecio todo dia
Tamanha criatividade.

As pedras, o arvoredo
Enfeitam cada estação
Seja inverno ou verão
Ao despertar logo cedo
Podemos andar sem medo
E contemplar o cenário
Pagar não é necessário
Por tanta arquitetura
Feito em total formosura
Que altera o imaginário.

O arco-íris me inspira
Me causa inquietação
De tanta fascinação
Que até a mente delira
O meu olhar foca a mira
Se esbaldando na beleza
No pensamento a certeza
Que sou privilegiada
Por ter sido contemplada
Para ver tanta riqueza.

 

 

 

 

INSPIRAÇÃO LUNAR


Cadê a Lua?
Não está no céu
Não está na rua.

Cadê a Lua
De brilho intenso
De face tão nua?

Ela não responde
Porque se esconde
Para aprontar.

Oh Lua, vais aonde?
Vou pegar o bonde
Para te encontrar.

Oh Lua atrevida!
A Terra destemida
Queres desafiar.

Lua fugitiva
Sua perspectiva
É o Sol provocar.

Quer mostrar poder
E o Sol esconder
Num eclipse anular.

 

 

 

 

CONTROVERSO

 

Eu me inquieto
Não me aquieto
E assim me completo.

Eu sou insistente
Sou valente
E às vezes intransigente
Sou gente.

Não sou a perfeição,
Nem o bicho papão.

Tenho alma que me impulsiona
Mente que questiona
E coração que se emociona.

Às vezes digo sim, quando devia dizer não
Às vezes digo não, quando devia dizer sim
A vida é assim
Enfim.

Há quem diga que a vida é um dilema
Eu digo que é um poema.

 

 

 

 

MUTAÇÃO


Não sou alegre e nem triste
Não sou pura perfeição
Também não sou imperfeita
É uma combinação
Tem hora que sou barulho
Hora no silêncio mergulho
Meu nome é contradição.

Às vezes fico alegre
Quando vejo o céu nublado
Mas de repente sinto falta
De um dia ensolarado
Gosto de rio e de mar
Mas como não sei nadar
Fico em casa conformado.

Às vezes sou super herói
Livro alguém do perigo
Às vezes fico sem forças
Não confio nem no que digo
Sou mesmo uma confusão
Que vivo em transformação
Nem sempre sou o que sigo.

O vento que me alegra
É o mesmo que me entristece
O calor que me sufoca
É o mesmo que me aquece
Às vezes quero carinho
Outras vezes estar sozinho
É o melhor que me acontece.

Às vezes sou tão estranha
Em outras, familiar
Tiro pedras do caminho
Para ninguém tropeçar
Mas depois eu me aquieto
Não quero ninguém por perto
Só quero me alienar.

Um dia eu sou a água
Noutro sou fogo à queimar
Um dia abaixo a poeira
Noutro, faço-a levantar
Lamento ser tão mutável
Não nasci pra ser estável
Alguém a se identificar?

 

 

 

 

COLCHA DE RETALHOS

A colcha de retalhos
Que minha mãe fazia
Tinha muito amor
E muita harmonia
Em cada ponto dado
Ficava registrado
O seu dia a dia.

Cada pedacinho
Era bem cortado
Liso ou colorido
Era emendado
Combinando cores
Entre sorrisos e flores
Tudo caprichado.

Costurando à mão
Com calo no dedo
Tecidos com textura
Forte igual rochedo
Minha mãe seguia
Com arte e ousadia
Esse era o segredo.

 

 

 

 


Maria Aparecida

Maria Aparecida de Sousa Cardoso é professora de Língua Portuguesa da Rede Estadual de Ensino da Paraíba. Formada em Letras, Especialista em Língua, Linguagem e Ensino e Mestre em Letras. Natural de Sousa e residente na cidade de São João do Rio do Peixe, ambas cidades na Paraíba. É escritora, poetisa, tendo vários poemas publicados em coletâneas diversas. Venceu alguns concursos literários, onde um deles foi a nível nacional, tendo alcançado o 1º lugar e recebido medalha. Gosta de incentivar seus alunos a lerem e escreverem poesia pois desde criança é apaixonada por literatura, especificamente poesia e seu maior hobbie é escrever.

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