O navalhista do dia é Jean Sartief. Autor de 7 livros e coautor de várias antologias, destacamos do poeta 5 poemas de seu último livro Desrazão, que saiu neste ano pela Editora Giro:

Tudo em volta é um desastre
As estrelas se autoconsomem
e morrem de muitas formas
tentam um equilíbrio entre a
própria fusão e a gravidade
é sempre preciso muita energia
para colapsar.

Que as palavras sustentem esta casa
Rezo para que a boca do desespero
tenha lentidão
e sobre essa pilha de livros que desmorona
que as palavras sustentem
esta casa.

Medição
Uma torrente
em dia de desolação
quando sais pela porta da frente
quase um furor indomável
a turbulência enredada
de quem põe a força no amor
e ousa dizer que vai medir o tempo
para diluir as separações
e segue pleno dessa natureza tão fácil
dessa tergiversação disfarçada
dessa arquitetura de planejamentos
que não te limita a imaginar
dá asas se queres asas
dá abismos se queres chão.

Quando vem a tempestade
Há um vento a bater à porta
também tenta atravessar
eu durmo na nau dos loucos
no tremor da navegação
na cama que (suponho) deixaste à minha espera
como um cessar fogo provido em meio à fome
esteja lá na casa na hora do abrigo
no frio bate o vento a banir-me cheio de glória
um abrigo imune como a tua mão em cima da minha
porque fingir que nada
aconteceu
é também um desmoronamento
que pulsa quando vem a tempestade.

Colisões
Como se fôssemos empurrados
para um hemisfério desconhecido
quase que atraídos por outro manto magnético
destoante
numa contradança esquiva
porque é quase certo
que somos feitos de colisões
igual a uma obra de arte
que engole o expectador.

Jean Sartief é poeta, artista visual e fotógrafo. Nasceu em Natal/RN. Jornalista e com mestrado em antropologia, tem sete livros publicados e as poesias aqui apresentadas são de seu último livro Desrazão (Giro, 2024). Participa de diversas antologias e revistas literárias no Brasil e no exterior. Sua obra se destaca por uma poética sensível e profunda, explorando temas como memória, homoafetividade, sanidade mental, relações humanas e os desafios da existência. Com linguagem lírica e precisa, seus versos transitam entre o íntimo e o universal, abordando questões contemporâneas com uma perspectiva singular unindo delicadeza e força expressiva em suas criações.