As navalhadas do dia ficam por conta de Brunno Viana. Segue 7 poemas do poeta e historiador, autor de livros como Paisagem.

Inércia das Coisas
O objetivo é pousar
Na imagem o tempo ideal
Mas a certeza é frágil demais
E a dúvida não cabe
Na inércia das coisas.

Máscaras
Máscaras de ácaros
Mastigando acasos
Com bocas acesas
Sobre duas mesas
Sobram de ilesas
Ruas duas asas
Flutuando luas
Nessas casas

Tráfego
Prosa primata que venta
Vira-lata que janta
Com pressa e tanto
Tinta fresca na janela
Presa e bela pelo tom mostarda
Sinfonia composta pelo vento
Sintonia imposta pelo lamento
Trafegam, enfim, na toada
Vozes que sussurram o medo
Algozes que descontam o segredo
Falam do sol e de si
E de mais nada.

Corre
Corre a paisagem pela vista que contempla
Corre o sol que se põe
Corre o vento que venta
Corre o meu eu que compõe
E o teu que inventa
Corre a cor do céu que transforma
Corre o coração de quem se apaixona
Corre a sorte que não espera
Corre a paisagem que vê a janela.

Fome de Mim
Tenho fome de mim
Da minha ausência no poema Retrato
Da minha presença
Em um Quintana declamado
Devoro minha literatura errante
Cada livro da estante
Tenho fome de mim
Mastigo cada vírgula doce
Instigo cada poema que você trouxe
Para ler no sarau
Meu desassossego, leitor, é pessoal
De Pessoa para pessoa
Minha fome de Hamlet não é à toa
É fome de ser, fome do ser
Doce fome de mim.

Quase
Sou quase entrada
Quase saída
Quase gente
Quase porta
Não importa
Quase saudade
Pretérito quase perfeito
Um verso quase desfeito
Quase fui reticências
Mas parei num ponto
Parei num conto
Quase fui
Quase continuo sendo
Sou quase verbo
Quase saída
Quase entrada
Quase nada.

Vestígios de poemas
Dei de andar
Pelo quarto
Entre vestígios de poemas
Dei de andar
Vestido de antigos poemas
Que tenho tido
Dei de andar
Pelo quarto andar
Em vestígios de poemas.
Sobre o autor:

Brunno Vianna é historiador, nasceu e vive no Rio de Janeiro. Venceu o Concurso Machado de Assis (2008), o I CoNcUrSo de PoEsIA InsTanTâNea do Sarau do Bar (2016), o VIII Concurso Internacional La Vida es Poesía (2016), conquistou o Prêmio PoloCultural de Multiartes na categoria Poesia (2022) e o sexto lugar no desafio de crônicas da Revista Artes do Multiverso (2024). Participou do projeto Literatura de Circunstâncias, da Universidade Federal de Roraima e publicou livros como Poesia, Cartas para a cidade, Caminhos de Papel e Paisagens.
Sou leitora assídua do poeta, escritor, ator, … Brunno Vianna. Amo suas poesias, e todas as suas artes. Sermos ” amigos” é uma bênção que eu agradeço. Beijo, Brunno.